Henrique Vieira veste a camisa do Centro Espírita Paulo de Tarso metafórica e literalmente. Quer que todos saibam a respeito de nossa Casa, dos trabalhos de Paulo de Tarso e do Evangelho. Um verdadeiro exemplo de fé e superação, que enfrentou a perda de um irmão e o afogamento de um filho. Você percebe o amor pela Doutrina Espírita e pelo CEPT em cada palavra, em cada história. Sempre presente nas atividades da Casa, ele foi convidado a ser candidato à presidência logo após uma prece relacionada a outro assunto. E não hesitou em aceitar, provando, mais uma vez, que, quando o trabalhador está pronto, o trabalho aparece.
Confira essa emocionante entrevista com o nosso Presidente.
- Como foi o seu primeiro contato com o Espiritismo?
Em 1988, na construção [do prédio principal] da FEB, com o seu Eliphas [Eliphas Levi Garcez Maia, fundador do CEPT]. Ele começou a me doutrinar (risos). Eu tinha medo de tudo, de tudo. Era católico, fiz comunhão, crisma e, quando pegava um livro como O Céu e o Inferno, aquilo me assustava bastante. Mas o primeiro plantio que senti foi quando conheci o seu Eliphas. Tudo começou por ele, que foi uma pessoa essencial em tudo.
- Conte mais sobre sua relação com o seu Eliphas na FEB.
Eu tinha 18 anos e estava desempregado. Por intermédio do Geraldo, uma pessoa que ele criava, consegui o emprego na FEB. Disseram-me que eu não poderia ficar com ele, pois era uma pessoa muito bruta e muito valente. Mas, logo no primeiro contato, descobri que o ‘’bruto’’ dele é porque ele era muito honesto, gostava de tudo muito certo. Foi a primeira escolha, de fato, na minha vida: acompanhá-lo. Tudo que eu o via fazer era o correto. Então, conheci o seu Eliphas, que era um paizão. Posso dizer que era a pessoa mais importante da minha vida em Brasília.
- Como você chegou ao Paulo de Tarso?
O seu Eliphas iniciou a conversa de fundar o Paulo de Tarso, pois não tinha Centro Espírita no Lago Norte. Ele ia entregar sopa no Varjão e dizia que ia construir um centro, e eu achava que era coisa de louco, porque ele mesmo dizia que não tinha dinheiro. Quando eu perguntava como ele ia fazer isso sem dinheiro, sua resposta era sempre a mesma: A gente dá um jeito. Então, começou as atividades do Centro na casa dele. Nesse período, eu não frequentava, porque não era espírita. Depois, o CEPT foi instalado num barracão, no CA, que, posteriormente, derrubaram. Só quando foi transferido para a atual localização, comecei a frequentar assiduamente, porque via o quanto o seu Eliphas ajudava as pessoas com os trabalhos que fazia.
- Depois de um tempo afastado, você retornou ao Centro. Quando percebeu que era hora de voltar?
Eu fui Testemunha de Jeová durante um tempo e, quando estava lá, me falaram para queimar os livros espíritas. Foi aí que comecei a ser espírita mesmo. Quando meu filho se afogou e desencarnou, foi uma época que a Verônica (Verônica Maia Baraviera) se aproximou mais de mim. Fui à casa dela, falei que gostaria de voltar e perguntei em qual dia de reunião poderia ir. Ela disse para eu ir à reunião de sexta-feira, na qual permaneço até hoje. E foi assim, eu trouxe a Kelly, minha esposa, que antes tinha medo e hoje troca qualquer coisa para vir para o centro. Minha volta foi uma das melhores voltas, acho que já estava preparado. Fui fazer o ESDE, que até então nunca tinha feito e comecei a estudar muito. Hoje termino um livro e começo outro, estou estudando mesmo. Porque não adianta a gente dizer que é espírita, mas não conhecer as obras básicas da Doutrina. Tem que estudar e entender.
- Você estava cogitando voltar para o Maranhão quando recebeu o convite para assumir a presidência do Centro, como foi esse período?
Tenho o sonho de abrir um centro espírita lá no meu interior; meu plano era realizar esse objetivo de vida nesse ano. Então, tive um problema de saúde, mas consegui contorná-lo, já que o tratamento era trimestral, logo poderia continuá-lo no Maranhão. Criei um canal no YouTube, chamado TV Canabrava, cujo objetivo era dar uma força para o novo centro que planejava abrir. Na noite anterior à minha candidatura, fui dormir e, na hora da prece, perguntei a Jesus: Que queres que eu faça? Não vou mentir, a pergunta foi direcionada ao meu canal, mas a resposta não foi para o meu canal. Acordei com o telefonema da Verônica falando: Henrique, você vai ser candidato à presidência do centro, junto com a Arlett. Você topa?’’ Num impulso, topei, porque, se tivesse tempo para pensar, não sei se toparia. Mas acho que os espíritos encaixam tudo direitinho, foi tudo combinado, porque, senão, não teria dado tudo certo? Respondi a ela: Vamos! Se é a vontade de Deus! Em seguida, pensei: Olha o pedido que fiz ontem para Jesus… Foi isso que ele me mandou? Bom, se for, tenho de fazer o que ele me mandou. Então, vamos fazer! Por isso, quando fui eleito presidente do Centro, já vim com o pensamento de dar o meu melhor, porque foi algo que pedi a Deus.
- Recentemente, você enfrentou um câncer. Como sua fé o ajudou nisso?
Estava em casa dormindo, tinha lido o Evangelho e pedi para o Dr. Bezerra de Menezes me ajudar, porque estava em um momento complicado. Logo nos primeiros dias quando recebi o diagnóstico, fiquei meio assustado, não com medo; medo, nunca tive. No meio da noite, Dr. Bezerra e toda sua equipe apareceram para mim; eles me mostraram como era a cirurgia. Então, me operaram. Dr. Bezerra disse que eu ia fazer o tratamento no mundo terreno e que ia dar tudo certo. Ele me mostrou como era a próstata, pois eu não sabia. Quando, antes da cirurgia, o médico foi me mostrar tudo, falei: Doutor, já vi isso aí! Ele perguntou como eu tinha visto, respondi-lhe que não ia entender. Antigamente ele não acreditava em Deus, mas, depois que ele me operou e eu comecei a falar para ele sobre a Doutrina Espírita, ele passou a acreditar. Meio caminho andado (risos). Então falei para ele sobre o sonho; que tive uma visão de Dr. Bezerra, quem era Dr. Bezerra. Ele ficou assustado. Na hora da cirurgia, lembro como se fosse hoje, estava cantando a música de irmã Scheilla, e o anestesista disse: Não vou perguntar se você está tranquilo, porque sei que não está. Respondi-lhe que era o contrário, que estava muito tranquilo e que sabia que daria tudo certo.
- E como foi depois da cirurgia?
Numa noite, acordei e me vi no 13º andar, mas o hospital em que estava internado só tinha doze andares. Eu estava em um hospital totalmente diferente dos que eu já vi. Cheio de maquinário, cheio de médico, hospital espiritual mesmo. Tinha de tudo. No dia seguinte, a enfermeira soube que eu era espírita e me contou uma história de uma moça evangélica que disse que foi parar no 13 º andar e que não podia uma coisa dessas, que lá não tinha aquele andar. Então, comecei a rir e contei para ela que também estive lá, contei toda a história e que, como sempre, o Dr. Bezerra garantia que tudo ia dar certo. E aí foi indo, fiz a quimioterapia; estavam previstas oito sessões, mas foram necessárias apenas seis. Dentro do hospital, comecei a ver as pessoas muito cabisbaixas por causa do câncer e comecei a conversar com elas. Então fui convidado para fazer palestras para os pacientes no Hospital de Base para animá-los. Comecei levando livros espíritas, o Evangelho e essas coisas. Lá conheci um médico que depois me levou para o Sírio Libanês. Fiz pesquisa, faço tratamento lá e não pago nada. Eu te pergunto, quem foi que me levou para lá? Foi Dr. Bezerra. Fico pensando que já tenho um pouco de responsabilidade do Espiritismo, por isso tenho a obrigação de espalhar esse conhecimento, tenho que divulgar toda essa informação sobre o mundo espiritual. O câncer veio para me ensinar e me transformar em uma pessoa melhor. Não tenho nenhuma raiva dele nem rancor, porque eu mudei. Existe um Henrique antes e outro depois do câncer, que é uma pessoa um pouco melhor. Durante esse período, a família da Verônica esteve sempre comigo e todo o pessoal do Paulo de Tarso também, minha verdadeira família. Sem contar que os espíritos estão com a gente o tempo todo. A partir de então, comecei a ver as coisas de maneira bem diferente. Sei que Deus está me preparando para alguma coisa. Tenho que ser o espelho para alguém. E, querendo ou não, hoje eu sou o Henrique do Paulo de Tarso, e não mais o Henrique comum.
- A Doutrina Espírita te ajudou a compreender todos esses acontecimentos da sua vida, inclusive a perda de um filho?
A Doutrina Espírita contribuiu muito na mudança da minha vida, em uma coisa: em termo de conhecimento. Quando vim para Brasília, em 1986, fui morar com meu irmão que, pouco depois de eu ter me mudado para a casa dele, teve quatro AVC’s. Por causa disso, ele passou a precisar de cuidados especiais. Então, como nessa época ainda não era espírita e, portanto, não entendia as razões de as coisas acontecerem com a gente como entendo hoje em dia, comecei a julgar Deus: Por que isso tinha acontecido? Que era uma injustiça estamos passando por aquilo. Depois tive meu primeiro filho que, com dois anos e meio, se afogou na piscina. Era o meu único filho, nasceu no dia dos namorados. Era um menino; como a maioria dos pais, eu também queria ter um filho homem (depois que tive minha filha, aprendi que não é nada disso!). Então, ele se afogou e, durante treze anos, precisou que lhe dispensássemos cuidados especiais. Pensei até em suicídio, porque você tem uma criança de dois e meio, que está naquela fase top para a gente brincar, e acontece uma tragédia dessas. Com treze anos, o corpo físico dele não aguentou mais e ele desencarnou. Então, a minha sogra veio cuidar do nascimento do meu filho caçula, o João, que está no Centro com a gente hoje. E ela desencarnou lá em casa também. Naquela época, comecei a pensar: Mas por que tantas coisas em cima de mim? Eu acho que doutrina me jogou tudo para eu entender que estava na hora de dar uma parada, estava na hora de começar a ver as coisas de modo diferente. Nesse período, comecei a estudar a Doutrina. Estudando e compreendendo porque isso tudo acontecia. Você começa a esquecer suicídio, a não ter medo de doença e coisa parecida, lógico tem que se cuidar. Tem o COVID, tem o câncer, tem tudo. Mas se você tiver fé, você tem tudo. E a Doutrina te dá essa fé. Ela te ensina a lidar com isso. A Doutrina me fez mudar muita coisa, acho que, se não fosse ela, eu não estaria mais aqui. Se você tiver fé e coragem, você consegue tudo. Acredito muito em Deus e comecei a acreditar depois que me tornei espírita. Acreditava, mas não agia, não fazia as coisas que Deus mandava a gente fazer. E hoje tento fazer.
- Quais são seus planos como presidente da Casa?
É fazer o meu melhor, ver o Centro da maneira que sonho, pedir a Deus que eu tenha essa capacidade. Espero que o povo me ajude a chegar a esse ponto: um Centro com mais movimento, com mais ajuda, ter mais crianças aqui, como sempre teve. Uma evangelização bem cheia, esse é meu sonho. Trazer as pessoas para o Centro. Fazer um trabalho mais voltado para as pessoas, ter um atendimento pontual na porta, ficar aqui todos os dias. Meu sonho é ter essa Casa assim, como o seu Eliphas sempre sonhou. O CEPT é um prédio enorme, mas é uma casa que tem um coração maior do que ela própria. Quem vem ao CEPT volta, porque é bem tratado, todo mundo conhece todo mundo. Digo que o CEPT é uma família muito grande. A gente depende de dinheiro, as coisas funcionam assim, mas não é o meu foco. O meu foco são as salas cheias de gente estudando a Doutrina, fazer alguns cursos para as pessoas carentes, trazer essas pessoas para cá. Pensar em algum meio de transporte para trazê-las aqui. Eu tenho tantos planos para o CEPT que, se conseguir colocá-los em prática, já posso desencarnar feliz.
- O que o Centro Espírita Paulo de Tarso significa para você?
Tudo. Eu só tenho o CEPT, não tenho nada além disso. Meus filhos não são meus, meu corpo não me pertence, a única coisa que me pertence é isso aqui. Foi aqui que minha vida mudou e que está me preparando para uma vida futura. Então, para mim, o CEPT é tudo. Tudo, tudo, tudo, sem exceção. Está acima de qualquer coisa.