Por Patrícia Galvão

 

  1. Qual o meio prático mais eficaz que tem o homem de se melhorar nesta vida e de resistir à atração do mal?

 

“Um sábio da antiguidade vo-lo disse: Conhece-te a ti mesmo.”

(O Livro dos Espíritos)

 

 

O autoconhecimento é uma das chaves para a transformação interior e a ascensão espiritual. Ele permite que o ser humano compreenda suas emoções, padrões de pensamento e reações, conduzindo-o a uma vida mais equilibrada e harmoniosa. O Espiritismo, em sua proposta de esclarecimento e reforma íntima, valoriza profundamente essa busca, alinhando-a com os ensinamentos de Jesus Cristo e com as contribuições da psicologia moderna. Grandes espíritos como Allan Kardec, Joanna de Ângelis, Emmanuel e André Luiz nos oferecem reflexões valiosas sobre essa jornada, mostrando que conhecer a si mesmo é um requisito essencial para o progresso moral.

A psicologia contemporânea também reconhece o valor do autoconhecimento como fator determinante para o desenvolvimento emocional e cognitivo. Carl Jung, um dos principais nomes da psicologia profunda, fala sobre a necessidade de integrar a “sombra”, ou seja, aqueles aspectos reprimidos do nosso ser que, se ignorados, podem gerar sofrimento e bloqueios na vida. Essa visão se alinha com o que Joanna de Ângelis ensina em sua série psicológica, na qual nos convida a enfrentar nossas imperfeições sem culpa, mas com responsabilidade, transformando-as em aprendizados para o espírito imortal.

Na visão psicológica, o autoconhecimento é um processo de identificação e compreensão dos próprios sentimentos, pensamentos e comportamentos. Ele envolve a conscientização dos nossos padrões emocionais e das crenças que moldam nossa percepção da realidade. Um indivíduo que se conhece bem é mais capaz de administrar suas emoções, tomar decisões alinhadas aos seus valores e cultivar relações saudáveis.

O autoconhecimento pode ser desenvolvido por meio da auto-observação, do registro de pensamentos e sentimentos (journaling), da prática da meditação, da terapia e do feedback externo. A psicologia também sugere o conceito de “eu ideal” e “eu real”: muitas vezes, sofremos porque tentamos nos encaixar em um ideal inatingível, ao invés de aceitar e trabalhar com nossa verdadeira essência. Esse entendimento ressoa profundamente com os princípios espíritas, que nos lembram de que a evolução ocorre gradativamente, com esforço e paciência.

O Espiritismo, desde sua codificação por Allan Kardec, enfatiza o autoconhecimento como ferramenta para a reforma íntima e, consequentemente, para o progresso espiritual. Em O Livro dos Espíritos, Kardec questiona qual é o meio mais eficaz para o homem melhorar moralmente, recebendo dos espíritos superiores a clássica resposta: “Um sábio da antiguidade vo-lo disse: conhece-te a ti mesmo.” Essa resposta reflete a máxima socrática que ressurge no Espiritismo como um caminho para a transformação verdadeira.

Em atenção ao questionamento, o espírito Santo Agostinho recomenda a prática do exame de consciência diário, um exercício que nos permite refletir sobre nossas ações, pensamentos e intenções. Perguntar-se “Fiz aos outros o que gostaria que me fizessem?”, ou “Que falhas cometi e como posso melhorar?”, são atitudes fundamentais para quem deseja evoluir. Essa prática, se levada a sério, ajuda a identificar padrões negativos e a desenvolver uma maior responsabilidade sobre as próprias escolhas.

A mentora espiritual Joanna de Ângelis aprofunda essa reflexão ao abordar a conexão entre autoconhecimento e equilíbrio psicológico. Em sua série de livros sobre psicologia e espiritualidade, ela destaca que cada ser humano possui sombras e luzes, e que o autoconhecimento é o processo de integrar esses dois aspectos para alcançar o equilíbrio.

Ignorar as próprias imperfeições pode gerar conflitos internos, repressão emocional e, em casos extremos, doenças psíquicas. Joanna nos convida a enfrentar nossas sombras sem medo, pois é apenas quando olhamos para dentro que podemos iniciar a verdadeira transformação. O Espiritismo, segundo a mentora, oferece recursos valiosos para esse trabalho, como o estudo do Evangelho, a prece, a meditação e a prática do bem, que ajudam a iluminar o inconsciente e a fortalecer o espírito.

Emmanuel, através da psicografia de Chico Xavier, reforça a importância do autoconhecimento como um processo contínuo e essencial para a libertação do espírito. Em obras como Pensamento e Vida e Fonte Viva, ele nos ensina que cada pensamento e atitude reflete o nível de consciência que possuímos sobre nós mesmos.

Para Emmanuel, o espírito encarnado é um viajor da eternidade, e a única maneira de progredir de forma verdadeira é compreendendo a si mesmo, suas fraquezas e suas potencialidades. Ele destaca que muitos dos nossos sofrimentos vêm do desconhecimento de nós mesmos, pois quando não sabemos lidar com nossas emoções e impulsos, acabamos caindo em padrões repetitivos de erro e desequilíbrio. O autoconhecimento, portanto, é uma das grandes ferramentas para a superação das provas e expiações.

André Luiz, em seus relatos do mundo espiritual, traz observações valiosas sobre como o autoconhecimento influencia nossa jornada após a desencarnação. Em livros como Nosso Lar e Libertação, ele descreve casos de espíritos que, ao chegarem no plano espiritual, se deparam com sua realidade interior de maneira intensa e inquestionável. Muitas almas, ao se verem frente a frente com suas próprias limitações e erros, percebem que passaram a vida sem se conhecer verdadeiramente.

Ele nos alerta que ninguém foge de si mesmo e que o autoconhecimento é um trabalho que deve ser iniciado na Terra, para que a transição para o plano espiritual seja mais leve e consciente. Através da reeducação mental e emocional, cada espírito pode redirecionar sua trajetória e se preparar para novas oportunidades evolutivas.

Jesus Cristo foi o maior exemplo de autoconhecimento e de caminho à transformação moral. Suas palavras e ações mostram que o crescimento espiritual começa de dentro para fora, e que conhecer a si mesmo é fundamental para encontrar o reino de Deus.

Seus ensinamentos enfatizam a necessidade da verdade interior, como quando afirma: “Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.” (João 8:32). Essa verdade não se refere apenas ao conhecimento do mundo externo, mas principalmente ao reconhecimento de quem realmente somos. Em diversas parábolas, como a do filho pródigo, Jesus nos ensina que o despertar para a realidade interna é o primeiro passo para a renovação da alma.

O próprio Cristo nos oferece um exemplo profundo de autoconhecimento quando passa quarenta dias no deserto, enfrentando suas tentações e preparando-se para sua missão. Esse período representa a importância da introspecção e do enfrentamento dos próprios desafios para alcançar uma vida verdadeiramente espiritualizada.[1]

O autoconhecimento é um processo essencial para a evolução do espírito. A psicologia nos oferece ferramentas para compreender nossas emoções, Allan Kardec nos ensina que a reforma íntima começa pelo exame de consciência, Joanna de Ângelis explica que integrar nossas sombras nos fortalece, Emmanuel nos lembra que somos responsáveis pela nossa transformação e André Luiz nos alerta que essa jornada não pode ser adiada para depois da morte. Por fim, Jesus Cristo nos mostra que a verdade sobre nós mesmos é o caminho para a libertação e a plenitude espiritual.

Que possamos iniciar, a cada dia, um novo passo nessa jornada de luz e crescimento interior.

 

[1] Nota da Revista: A referida passagem do Novo Testamento, à luz da doutrina espírita, não parece factível. Sendo Jesus um espírito puro, não mais é passível de quedas morais. Contudo, considerando que o evangelista deliberou por registrar essa parábola, seu simbolismo enriquece nossas reflexões.

 

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