Por Sérgio Rossi

 

 

  1. O constante auxílio da espiritualidade

De ordinário, são eles que vos dirigem.

A resposta à questão 459 de O Livro dos Espíritos é incisiva: os amigos espirituais acompanham a trajetória terrena dos encarnados em tempo integral e os orientam segundo elevados critérios de oportunidade e conveniência. Nesse sentido, cabe entender que “eles” se refere aos desencarnados, incluindo os que honraram as perguntas de Allan Kardec.

Considerando-se o grau de imperfeição, a vacilante prática do bem e a ignorância prevalecente, mostra-se razoável admitir que a intervenção benéfica da espiritualidade constitui, de fato, a regra geral a nortear a virtual totalidade dos sucessos humanos.

Entretanto, faz-se mister entender plenamente o profundo significado da frase epigrafada, pois provém de espíritos evoluídos a ponto de exercerem a missão excelsa de indicar o melhor caminho à humanidade encarnada, sempre tão necessitada do julgamento superior em razão do seu discernimento limitado.

Do alto de seu avanço moral, a espiritualidade superior sempre olha para seus irmãos na matéria com amor e generosidade, escusando-se qualquer intenção de controle, menos ainda de cerceamento à liberdade divinamente concedida pelo intocável livre-arbítrio. Ela não pretende dirigir ninguém, no sentido habitual à realidade terrena, em que a conotação de comando comparece inevitável, mas sim professar a orientação sincera e caridosa, por meio da inspiração sutil e segura, recepcionada em diversificados níveis de dificuldade e compreensão, conforme a infinita gradação da capacidade humana.

Neste orbe, essa habilidade, por mais sublime e abrangente que a detenham alguns irmãos encarnados, jamais se aproximará do patamar de conhecimento e experiência vivenciado pelas falanges protetoras, que encaminham seu aconselhamento, por vezes enfático, mas sempre ditado pela sabedoria diligente e generosa, uma vez que dominam os fatores e os efeitos dos cenários que afetam a esfera terrestre.

Aos imersos na matéria cabe aprender a ouvir a voz inaudível aos sentidos terrenos, na certeza de que nunca estiveram desamparados do companheirismo fraterno dos irmãos do Alto.

 

  1. O auxílio

Seja feita a vossa vontade.

Constrangido por reconhecida limitação sensorial e mental, o habitante do planeta Terra tende a interpretar a ajuda, de qualquer origem, como colaboração e incentivo à obtenção do que deseja receber ou realizar, pouco importando a justeza dessa iniciativa individual.

Embora aceitas universalmente, as palavras ditadas por Jesus, na oração legada ao mundo, são incompreendidas, ou abertamente contraditadas, pela intenção verdadeira, raramente admitida, a nortear a rogativa à esfera superior, mal dissimulando a esperança exigente de conseguir o pleno atendimento de sua necessidade momentânea, real ou presumida.

A vontade do Pai, assumida por seus emissários de luz, precisa coincidir integralmente com a motivação humana, situação que, no mais das vezes, leva ao júbilo pessoal pela conquista, ignorando-se o reconhecimento à piedosa interveniência superior. No extremo oposto, mais raro, o evento é classificado como milagre, em função de sua aparente ou atual impossibilidade ante a ciência terrena.

Em qualquer caso, o equívoco é evidente, fruto do egoísmo e da ingratidão encontradiços no orbe material, que geralmente não permitem o sentimento reconfortante de proteção e proximidade sempre oferecido pelos amigos leais e infatigáveis, libertos dos empecilhos da encarnação.

Bastaria, entretanto, recorrer à comparação simbólica, de emprego recorrente na literatura espírita, a qual enuncia que o ser encarnado em um planeta de provas e expiações estagia na infância espiritual, estando, portanto, em pleno aprendizado das maiores verdades, cujo sentido profundo e fulcral ainda lhe escapa, mas lhe é transmitido adrede e paulatinamente pelos irmãos adquirentes da sabedoria indispensável.

A metáfora ilustra também o entendimento, correto e adequado, de que esses professores agem realmente como tutores zelosos, definindo, a cada passo, o que trará o melhor resultado para seus pupilos, ainda incapazes de otimizar as próprias escolhas, dada a sua avaliação parcial e imediatista. Afinal, pais conscientes sabem o que devem ensinar a seus filhos.

O mesmo raciocínio demonstra que o Pai Perfeito exerce idêntica proteção piedosa a toda criatura, deliberando sempre que cada uma receba, ou realize, apenas aquilo que lhe propicie o maior bem, mecanismo divino corroborado pela certeza de que Deus não atende aos desejos humanos, mas as suas necessidades.

Conhece o Pai Onisciente a dificuldade imensa que seus filhos amados enfrentam para estabelecerem, a cada passo, o evento de efetivo benefício a si mesmo, bem como hora e lugar, iludindo-se com a projeção impensada, rósea como a cena ideal que lhe aprazaria desfrutar, porém passível de tristes consequências, pois muitos são os fatores ignorados pela argúcia humana, por esforçada que seja, incompleta.

Não cabe, portanto, ao ente encarnado entregar-se ao desânimo ante o desatendimento a seu pleito sincero, pois verá confirmado o amor infalível do Criador, que delega aos espíritos superiores o escrutinamento caridoso dos caminhos terrenos. Não pode permitir-se a desvalorização de suas reivindicações à espiritualidade, sob a seriedade e a concentração da prece, devido à sua aparente ineficácia ou mesmo impropriedade, justamente porque os espíritos superiores deterão sempre o suficiente discernimento para apartar os pedidos justos e produtivos daqueles prejudiciais ao progresso do rogador, ou apenas destituídos de coerência e efeitos benéficos.

Segue nessa direção o compromisso interior do encarnado de somente dirigir-se ao Alto em atmosfera de prece profunda, demonstrando compreender que, embora o seu pedido respeite a sua própria e sincera convicção de justiça, o retorno divino, sempre generoso, pode diferir do objetivo expectado, entretanto sempre recepcionado com a humildade e a resignação de quem admite e reverencia o poder que lhe supera o tirocínio incipiente.

Tampouco deve o vivente encarnado restringir, menos ainda omitir, as evocações rogatórias que pretenda dirigir à espiritualidade, desde que regradas pela absoluta honestidade de propósito, jamais distante da superação de dificuldades pelo esforço de aperfeiçoamento de si mesmo. Na verdade, a alma crente, ciosa emanação da vontade divina, precisa agir e pensar, a todo momento, com o mesmo respeito à lei maior que permeia a oração verdadeira. Portanto, o ditame precípuo é que o espírito, liberto ou na matéria, se mantenha em prece permanente, antídoto infalível ao cometimento voluntário de falhas e equívocos.

Será sempre ouvido.

 

  1. A espiritualidade

A alma é essa coisa que nos pergunta se a alma existe.

Frasista genial, Mário Quintana definiu o dilema inconsciente que assola aqueles que ainda enxergam na matéria a finitude da vida, por não atinarem a contradição evidente. A realidade é que o ser encarnado não possui um espírito; ele é um espírito que possui um corpo material temporário. Portanto, a humanidade terrena é constituída de espíritos; assim como todo o restante da vida no universo.

Desse modo, não se sofisma que o planeta abriga quase oito bilhões de integrantes da infinita comunidade espiritual, impermanente, como emanação do Criador, e imortal, pelo mesmo motivo. Tal unicidade simplifica, consolida e racionaliza a interação entre as duas searas, que não se distinguem exceto pelo constrangimento sensorial e mental da fugaz imersão na matéria.

A influência, de imutável reciprocidade, favorece a coletividade liberta da carne, em intensidade, precisão, constância, objetivos e, especialmente, na voluntariedade do agente espiritual, detentor de conhecimento e consciência bastantes para a deliberação plena e específica, adequada a cada contexto e finalidade.

Após a desencarnação, a criatura prossegue em sua escalada evolutiva, com avanços e retrocessos inerentes ao grau vigente de imperfeição, de que decorre a variação imensurável de sua atuação junto aos irmãos remanescentes na matéria. Admissível, destarte, que a ação nem sempre se revele afirmativa, seja em virtude da boa intenção de involuntário equívoco ou da vontade de manifesta nocividade.

Cingindo-se, porém, ao companheirismo construtivo da espiritualidade, permanece, inobstante, inumerável a variedade de influências, benefícios e resultados de sua interveniência auxiliadora e caridosa.

O respeito ao livre-arbítrio do encarnado é cláusula pétrea em todo relacionamento espiritual, incluindo a amorosa proximidade do espírito protetor, que o reconhecimento humano acarinhou com o nome de anjo da guarda. Entendimento esse recepcionado pelo Espiritismo, consoante o qual a conduta generosa desse irmão, ainda distante da perfeição, tem por objetivo influenciar e orientar outro irmão na matéria. Para atender esse propósito, envia-lhe a sugestão mental de modo a lhe inspirar a melhor escolha nos incontáveis dilemas da existência. Além disso, procura minimizar os efeitos da atitude inadvertida e rejubila-se com os acertos, sinais seguros da evolução de seu tutelado e de si mesmo.

Sofre, porém, com a resistência de seu pupilo à sua inspiração educativa, interpretando os erros retardatários do avanço moral como falhas de si próprio na execução da missão que o mantém no orbe por longo período. Pode afastar-se do ambiente negativo, advindo da vontade deletéria de seu protegido, mas retornará ao perceber a intenção renovadora.

Todavia, a atenção da espiritualidade, à travessia dos irmãos na matéria, não se resume a esse preposto dianteiro, que representa a sua preocupação imediata com o planejamento superior de cada encarnação concedida aos aprendizes do espaço. Voltando à Terra, o irmão reencarnado vivenciará cenários e enredos que lhe experimentarão a capacidade individual para a seleção da alternativa ditada pela consciência sequiosa de progresso.

Os caminhos oferecidos na matéria são trilhas preciosas de que o viajor poderá afastar-se voluntariamente ou aproveitar as oportunidades de elevação, jamais constrangido ao rigor de trilhos inflexíveis que lhe violariam a autonomia sagrada e inviolável, conforme estipulação divina.

Espíritos luminosos de conhecimento e experiência, escrupulosa e piedosamente empregados, os irmãos do Alto acompanham as peripécias da humanidade, de resto volúvel e insegura ante os descaminhos terrenos de que partilha a responsabilidade, intercedendo quando julgam possível e necessário algum ajuste que esteja em sua instância realizar. Conhecem as consequências de atos e intenções impensados dos cativos na carne, considerando especialmente o mérito do irmão carente de auxílio, para deliberar a modalidade de influência que exercerão, podendo enviar emissários aptos a avaliar e neutralizar as dificuldades específicas do assistido. A literatura espírita prodigaliza incontáveis exemplos da solidariedade espiritual à lida terrena.

Vinculada à sensibilidade individual do encarnado, por vezes dotado de razoável avanço moral, é igualmente exequível a inspiração direta de espíritos superiores, cultos e equilibrados, que se farão ouvir na mente receptiva do irmão terreno, o que, por sua vez, terá acesso a ideias e raciocínios que lhe apontem a melhor direção, fortalecendo-lhe as convicções sinceras e avançadas de ética e moralidade.

O auxílio da espiritualidade vale-se também do diálogo direto com o favorecido no desprendimento do sono, falando-lhe ao espírito parcialmente liberto da inconsciência carnal, habilitado à compreensão aprofundada da orientação instrutiva de amigos mais avançados. Eventualmente, trará à vigília a recordação difusa de um sonho agradável e impreciso, inacessível à descrição humana, experimentando, porém, uma sensação de bem-estar e alívio, identificando, muitas vezes, a solução de dúvidas e angústias.

O resultado efetivo e duradouro sobre o ser encarnado dependerá, sempre, da combinação de dois atributos dele próprio, que são a conduta moral e o mérito. Poderá, assim, compartilhar a sabedoria doada pela espiritualidade ou mostrar-se impermeável à influenciação sublime, admitindo a sua substituição pelas sugestões desarmonizadoras de desencarnados, igualmente infelizes.

 

  1. O encarnado

Na reencarnação ninguém erra de endereço.

O ensinamento de Chico Xavier consona com a condição planetária de provas e expiações, excluindo o acaso no cenário encontrado pelo espírito em cada retorno à matéria, pois vivenciará os sucessos de que deverá valer-se para o seu aperfeiçoamento moral, com expurgo de imperfeições e aquisição de valores mais elevados.

Embora o conceito de vida espiritual difira intensamente nas inúmeras religiões do mundo, nenhuma delas a nega, pois se aproximaria do materialismo, o grande adversário da fé, enfrentado com a oferta de consolação e imortalidade. De alguma forma, a maioria dos credos cristãos admite a existência de seres isentos de matéria visível, dotados de benevolência, à que se pode apelar na dificuldade, ou maléficos, de que se deve buscar a distância.

Subsiste, assim, toda uma hierarquia celestial, prolífica em denominações, como anjos, protetores, gênios, deuses, espíritos, entidades, que interferem na vida terrena, ajudando, atrapalhando, ouvindo pedidos, atendendo desejos. Mantêm, quase sempre, características humanas, sujeitando-se a emoções pouco elevadas, como descontentamento, irritação, ciúme, ira, vingança, situação plenamente explicável por se tratar de interpretação dos homens em matéria que lhe extrapola a compreensão.

Prossegue o equívoco ao interpor entre esses seres e a criatura carnal uma distância virtualmente infinita, irrevogável e intransponível, empecilho corroborado pela origem que lhe é atribuída, a título de graça discricionária da divindade, que já os teria criado nesse patamar elevado e imutável. Raras disposições religiosas divergem dessa concepção, admitindo a possibilidade de promoção ante os desígnios superiores.

O Espiritismo, fiel ao preceito cristão de mérito, oportunidade e progresso ininterruptos, afasta-se dessa posição estática de privilégio e imobilidade moral para demonstrar que todos são espíritos libertos, em grande parte, das agruras materiais, ou sob estágio intermitente nas inumeráveis escolas planetárias. Advoga, com conhecimento e ciência, que todas os filhos do Pai Eterno detêm as mesmas possibilidades de progresso e disporão do tempo que for necessário para percorrer toda a escala evolutiva, do átomo ao arcanjo, na certeira definição de Ramatis. Ou seja, refere-se a todos os espíritos, encarnados e desencarnados, semelhantes, em origem, desenvolvimento e futuro, ressalvada a imensa variação no tempo demandado para o retorno à perfeição de onde vieram, conforme o enfrentamento de suas imperfeições, com presteza e sinceridade ou com desídia retardadora. Inexiste, ademais, qualquer separação insuperável entre eles; ao contrário, o Criador aguardará que cada um dele se reaproxime.

Qualquer projeção inferior a essa justiça perfeita significaria duvidar da infinitude dos atributos divinos. Cabe, portanto, ao habitante da carne certificar-se de que a totalidade dos espíritos se encontra na mesma seara de aprimoramento, na trilha única de esforço e trabalho, podendo contar com a colaboração incondicional daqueles que os precederam na árdua travessia dos patamares menos elevados da evolução, neste mundo e em vários outros dentre os infinitos orbes deste universo infindável.

Na veste carnal, o espírito, sincero e humilde, terá a companhia constante do seu amigo protetor, agraciado como anjo da guarda, honraria aceita, apesar de negada a perfeição infalível emprestada a esse título em outras denominações cristãs. Poderá dialogar com esse companheiro de todas as horas, endereçando-lhe pensamentos e indagações a qualquer momento relevante, na certeza de que será ouvido e receberá a inspiração intuitiva de que careça.

Optando honestamente pela direção equivocada, perceberá dúvidas e empecilhos inesperados, resultantes da ação retificadora de seu parceiro desencarnado, que será bem ou malsucedido segundo a sensibilidade e discernimento de seu pupilado, mas lhe respeitará sempre o arbítrio soberano. A ajuda virá mesmo que o descaminho seja fruto de má intenção deliberada, contudo terá efetividade mais duvidosa, além de a má fé reiterada acarretar o afastamento triste e constrangido do amigo leal, pesada responsabilidade que se somará ao fardo de remissões que o encarnado terá de encarar cedo ou tarde.

O espírita estudioso e diligente não desconhece o amparo singular da espiritualidade nas passagens mais difíceis, validando o ditado popular de que grandes problemas merecem grandes soluções. Assim, ao aperfeiçoar a sensibilidade moral, estará habilitado a receber a inspiração indispensável a cada passo, obedecendo à intuição benévola e salvadora. Participará, em desprendimento espiritual, de reuniões, estudos e conferências com irmãos mais evoluídos e também receberá o suficiente fortalecimento mental durante as atividades cotidianas, predispondo-se às escolhas e atitudes mais acertadas.

Pode e deve, portanto, solicitar, a todo momento, o concurso da espiritualidade, sem esperar a manifestação teatral ou dramática de amigos discretos e eficientes, que agem com sutileza bastante para compartilhar o mérito dos resultados com a humanidade encarnada. Recorrendo, mais uma vez, à sabedoria geral, a receita infalível é pôr nas mãos de Deus, fonte de toda virtude.

A excelsa verdade, perene e consoladora, é que a existência na Terra não é consequência da solitária ação da natureza impessoal e inconsciente, sendo, porém, a beneficiária permanente da misericórdia vida imortal.

 

  1. A influência recíproca

Convives com quem sintonizas.

O ensinamento do espírito Hammed afirma a responsabilidade de cada um pelas companhias que atrai, na linha do antigo adágio sempre válido: dize-me com quem andas…

A realidade irrecusável é a plena e constante interação entre as esferas da matéria e do espírito, em que esta última contém a primeira como parte relevante, mas não indispensável, para o usufruto da vida verdadeira e imortal.

Assim, não é indevido imaginar o ambiente vivenciado pelo encarnado, somando-se aos fisicamente próximos os acompanhantes espirituais, em quantidade e variedade muito maiores, personagens perenes, ativos e passivos, da influência mútua entre as duas grandes divisões da existência. Tampouco é incerto admitir que nenhum ser terreno pode considerar-se vítima submissa e inerme de agentes invisíveis e supostamente mais fortes.

Ele consegue beneficiar-se da colaboração construtiva e defender-se de energias perniciosas, por meio do exercício de sua vontade livre e consciente, porque o seu entorno será receptivo e amigável àqueles que lhe comungam os ideais elevados e moralizadores. No entanto, o inverso também vigora, vez que muitas criaturas manifestam intenções criticáveis, acercando-se dos que se alegram com finalidades menos nobres, que incentivam nos encarnados receptivos.

A afinidade espiritual seleciona os companheiros que cada encarnado manterá próximos para que ajudem em seus objetivos, concordantes entusiasmados da virtude ou do vício. Os espíritos harmonizam-se com quem desejam agradar. Portanto, a sinceridade é decisiva para definir a influência recíproca e jamais interrompida entre encarnados e libertos.

O anjo da guarda felicita-se com os esforços redentores de seu protegido e se entristece com a pertinácia na acomodação paralisante, alheia à lei de progresso. Percebendo-se desatendido em suas sugestões edificantes, afasta-se vencido, mas sem macular-se com a energia inferior, sendo substituído por irmãos menos exigentes, que se comprazem da ociosidade espiritual, permutando pensamentos e também ações deletérios para os dois lados.

Também os missionários do Alto, em expedição de amparo sublime a encarnados merecedores, dedicam-se incansavelmente ao fortalecimento moral do irmão apoiado, facilitando-lhe a consecução de seu objetivo elevado. Entretanto, se a contrapartida humana não corresponder, retornam à morada espiritual, então a criatura terrena dará atenção ao que mais lhe apetecer.

Constata-se, assim, em todo esse relacionamento o valor absoluto da vontade livremente exercida, propiciando o auxílio superior que inspira as boas ideias, incentiva a iniciativa benemérita, congratula-se com o sucesso terreno e nunca desanima, exceto quando a sua atuação é recusada.

O habitante do planeta precisa emitir a sua intenção afirmativa e dignificante a todo momento, pensando e agindo como se em prece estivesse, conduzido pela honestidade humilde e realizadora.

 

  1. A vida continua

Eu vim para que tenham vida, e a tenham em abundância.

As palavras de Jesus são eternas e suscitam a compreensão abrangente, insubordinável às restrições materiais, terrenas e temporais. Ele conclama ao pleno aproveitamento desse dom divinamente concedido para a missão insubstituível de aperfeiçoamento moral, rumo à perfeição acessível a todo filho de Deus, exaltando o caráter superlativo da existência, superante a qualquer limitação ditada pelos sentidos humanos, sob obstrução da matéria.

Nenhuma religião advoga a extinção peremptória da vida, afirmando a sua continuidade em novos cenários e condições, que divergem imensamente conforme os valores aceitos em cada crença. Com raras exceções, propagam que o ser encontra o seu destino no éden eterno ou no suplício interminável ou ainda em alguma situação temporária de sofrimento e purificação.

O Espiritismo ultrapassa concepções determinísticas, estabelecidas de modo irrevogável para a trajetória terrena ou pelo poder discricionário da divindade, e esclarece que o amor inefável do Criador jamais permitiria, ou causaria, o mais insignificante evento ao último de seus filhos que não seja para o próprio bem dele.

Este preceito misericordioso guarda inabalável coerência com seus fundamentos doutrinários, que se baseiam na imortalidade do espírito. Uma vez criado, em inestancável jornada de aprimoramento e elevação, alterna temporadas na espiritualidade plena, sem amarras materiais, e passagens pela existência carnal, em grau variado de densidade e consequente dificuldade, em quantidade suficiente para o expurgo paulatino de suas imperfeições.

O abandono do corpo material repete-se indefinidamente e não implica alteração automática no patamar evolutivo, pois o espírito carregará sempre as conquistas e os pesos adquiridos por seus acertos e erros, mantendo-se, portanto, o mesmo indivíduo. Permanece também inalterado o objetivo supremo de todo espírito, que cada um alcançará a seu tempo.

Todos os seres compartilham essa travessia, e a interação entre os incontáveis patamares de evolução enseja a fraternidade entre aqueles que ultrapassaram determinadas dificuldades, aptos a disseminar a sua experiência vital, e os demais que lhe sucedem os passos.

A vida abundante que o Mestre se refere não encontra limites físicos, esparramando-se pela infinidade de mundos que a piedade do Pai disponibiliza, tampouco se ajusta a marcos temporais humanos, sabidamente restritos, remetendo-se, portanto, à imortalidade o conjunto da humanidade, que deve ajudar-se mutuamente, pela solidariedade incessante.

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