A codificação espírita ensina um código de conduta que são as verdadeiras leis da natureza, às quais todos estão submetidos: as leis morais. Assim, no processo evolutivo, o ser humano se vê condicionado à lei de causa e efeito e à lei do progresso, que, por vezes, trazem aprendizados e provas dolorosas. Todavia, impera igualmente a lei do amor, de modo que a misericórdia divina está em todos os lugares, inclusive no mundo espiritual, onde existem verdadeiras organizações em que a caminhada evolutiva do ser tem continuidade: as colônias espirituais.
Deus, sendo justo, dá a todos os desafios e trabalhos necessários para que, através do esforço, tenham o mérito pelas suas conquistas. Todos os Espíritos foram criados simples e ignorantes¹ para que pudessem se esclarecer gradativamente. Na origem, seriam como as crianças inexperientes, só adquirindo pouco a pouco os conhecimentos necessários através das dificuldades vivenciadas na existência corporal¹. Ao concluir uma prova, o Espírito permanece na sua memória com o aprendizado que ela lhe trouxe. No final, quando percorrerem as diferentes fases da jornada, todos os Espíritos se tornarão perfeitos¹.
Essa perfeição deve ser entendida de forma relativa, considerando-se o que se pode conquistar no plano evolutivo da Terra¹ e nos mundos muito mais perfeitos. Deus possui a perfeição infinita em todas as coisas e é perfeito de forma absoluta. Nós temos as possibilidades e devemos realizar todo esforço em alcançar a perfeição relativa, a de que a Humanidade é suscetível. Isso nos vai aproximando mais da Divindade4.
Quando do retorno à esfera de carne, o Espírito pode melhorar seus valores através do esforço próprio ou enterrar-se ainda mais nos débitos para com o próximo por menosprezar as oportunidades que lhe foram conferidas², mas, independentemente das escolhas feitas e atitudes tomadas, Deus olha de igual maneira para os que se transviaram e para os outros e a todos ama com o mesmo coração, assistindo-os em todos os momentos¹ através dos emissários que trabalham na seara do Bem.
Retorno para o mundo Espiritual
Na esfera espiritual, o Espírito continua sua jornada e encontra os recursos necessários para seu auxílio e progresso. Com efeito, Jesus exorta para que “Não se turbe o vosso coração. Credes em Deus, crede também em mim. Há muitas moradas na casa de meu Pai“³. Essa revelação, além de explicitar a pluralidade dos mundos habitados, destinados à experiência encarnatória, também indica a existência de uma multiplicidade de “moradas” no mundo espiritual4.
A passagem reforça, ainda, ser insustentável a noção dicotômica e tradicional de céu e inferno, que é completamente incompatível com a ideia da soberana justiça e bondade de Deus ¹.
Na verdade, o mundo espiritual não é formado por meios estanques e bem delineados geograficamente, podendo variar ao infinito conforme a evolução do Espírito, ou seja, de acordo com a elevação de seus pensamentos e sentimentos e da sua maior ou menor ligação com o mundo material. Portanto, o destino do Espírito desencarnado não consiste propriamente em prêmio ou punição determinada casuisticamente por Deus, mas é verdadeiro reflexo da vibração do Espírito.
O pensamento humano possui força criadora, sobretudo no mundo espiritual, em que a matéria é mais sutil, de modo que tudo quanto se pensa, de acordo com a intensidade da ideia, adquire forma e vida5. E assim, cada alma entra em ressonância com as correntes mentais em que respiram aquelas que se lhe assemelham6.
A literatura espírita traz relatos de diversos cenários no além-túmulo: inúmeras e variadas colônias, que agregam Espíritos durante o período em que permanecem na erraticidade, bem como zonas ainda marcadas por dores e sofrimentos, como o Umbral e as Trevas.
O Umbral, “é a zona obscura de quantos no mundo não se resolveram a atravessar as portas dos deveres sagrados, a fim de cumpri-los, demorando-se no vale da indecisão ou no pântano dos erros numerosos”7.
Trata-se de região que começa na própria crosta e concentra Espíritos ainda revestidos de pesados fluidos, devido ao apego ao mundo material ou a sentimentos de egoísmo, orgulho, culpa ou remorso. Portanto, o Umbral é resultado das construções mentais negativas, nele permanecendo os Espíritos que as produzem e que com elas se sintonizam.
Vale destacar que o Espírito não estagiará necessariamente nas zonas umbralinas e que, mesmo aqueles que lá se encontram, permanecem apenas um período de tempo, mais ou menos longo, necessário ao esgotamento dos resíduos mentais. O livro Nosso Lar7, por exemplo, relata que André Luiz, aferrado ao seu orgulho, demorou-se no Umbral por cerca de oito anos; por outro lado, a personagem Teresa lá esteve por apenas algumas horas, enquanto Laura, sequer precisou enfrentar “indecisões e angústias do Umbral”.
As regiões trevosas, por sua vez, são aquelas mais inferiores de que se tem notícia, onde estagnam espíritos efetivamente recrudescidos no mal. Como consequência das suas emanações mentais, prendem-se a verdadeiros abismos perturbadores pelo desvio voluntário do dever, insurgindo-se, muitas vezes, contra o próprio Criador7.
Apesar da angústia que a notícia das zonas inferiores possa acarretar, é necessário ter em mente dois fatores, que reforçam a noção da infinita bondade divina.
O primeiro deles é que todo mal é transitório. Em decorrência da sabedoria de Deus, o próprio mal é utilizado como ferramenta para o progresso: ainda que os cenários tenebrosos das zonas de sofrimento não possuam distrações ou elementos que instiguem a fuga mental, eles compelem as criaturas a se voltarem para dentro de si mesmas, no reconhecimento dos próprios erros8.
O segundo é que o amor de Deus está sempre presente, de modo que mesmo nos locais mais tenebrosos do mundo espiritual, há socorro disponível9. Como diz o Salmo 139, Deus sonda e conhece a todos, e pode ser encontrado em qualquer lugar, mesmo nas regiões sombrias e abismais10.
A lei de causa e efeito é inafastável, mas não inflexível, contando com dois fatores importantíssimos: o tempo e a reencarnação11. Assim, ainda que a colheita seja vinculada à semeadura, a boa vontade permite que o enfrentamento dos efeitos ocorra da forma mais leve e proveitosa possível.
Há que se pontuar, todavia, que o livre arbítrio permanece, mesmo no mundo espiritual. Assim, o amparo depende do sincero desejo de ser socorrido, possibilitando, inclusive, a sintonia vibratória necessária para a cooperação dos Espíritos missionários.
As obras espíritas nos oferecem a certeza do auxílio. Muitas vezes os Espíritos familiares e amigos da pessoa, já desencarnados, vêm recebê-la à entrada do mundo dos Espíritos e a ajudam a desligar-se das faixas da matéria¹. Em Nosso Lar, a avó da personagem Hilda vai buscá-la no Umbral, exortando-a a vivenciar os ensinamentos religiosos aprendidos7; em Obreiros da Vida Eterna8, Zenóbia e Ernestina recorrem a amigos para ir ao encontro de Domênico, preso em zona de sofrimento por se manter em temível aridez do coração; o próprio André Luiz, por sua vez, tem a oportunidade de auxiliar seu avô, há muito tempo absorvido pela ganância, como se vê na obra No Mundo Maior12.
Existem também verdadeiras equipes, organizadas em diversas colônias, que se ocupam ao penoso trabalho de amparo aos desventurados que ainda se mantêm nas regiões inferiores. O mundo espiritual conta, ainda, com instituições situadas nas próprias zonas umbralinas, voltadas ao acolhimento e tratamento de Espíritos, para seu posterior encaminhamento a colônias espirituais ou mesmo seu retorno ao mundo material, em reencarnações retificadoras.
Como exemplo, os livros “Missionários da Luz”² e “Nos Domínios da Mediunidade”13 mencionam hospitais espirituais, criados como refúgio para desesperados, conduzidos para início dos seus processos de recuperação positiva.
Por sua vez, a obra “Os Mensageiros”14 relata a vista de André Luiz a um Posto de Socorro. A organização é vinculada à colônia Campos da Paz, a qual foi organizada em região inferior como “instituto de socorro imediato aos que são surpreendidos na Crosta com a morte física, em estado de ignorância ou de culpas dolorosas”.
Por fim, tem-se o relato, em “Obreiros da Vida Eterna”8, da existência da Casa Transitória de Fabiano. A instituição, que se transfere de tempos em tempos de uma região para outra, atendendo às circunstâncias, foi fundada para acolher Espíritos que vivem em região abismal e prepará-los para a reencarnação15.
A dedicação e organização dos Espíritos amigos é tão admirável que há uma cuidadosa preparação para o acolhimento de Espíritos em caso de catástrofes, inclusive com a criação de instituições temporárias e agrupamento de equipes excepcionais.
No tsunami que ocorreu no oceano Índico, em 2004, foram adotadas providências para o auxílio possível, com a convocação de Espíritos de todo o mundo para atuar em grupos de resgate espiritual, além da construção de um posto de socorro sobre a região que sofreu mais danos decorrentes do epicentro da catástrofe9.
Na recente obra “No Rumo do Mundo de Regeneração”5, psicografada por Divaldo Franco, o Espírito Manoel Philomeno de Miranda relata sua participação em atividades de socorro durante a atual pandemia de covid-19. Informa a organização de grupos com finalidades diversas, a inspiração aos pesquisadores e profissionais da área de saúde, o auxílio aos doentes, além da adoção de todas as “providências para receber os irmãos que desencarnarem sob a trágica tempestade viral”.
Colônias Espirituais
Os espíritos que não estagiam nas zonas de sofrimento, ou aqueles que dela são resgatados, passam a viver nas Colônias Espirituais, também chamadas de Comunidades Espirituais, Cidades Espirituais ou Mundos Transitórios. Nesses locais, grupos de Espíritos errantes (ou desencarnados) se estabelecem, transitoriamente, enquanto aguardam novas encarnações16.
São cidades estruturadas em edifícios de natureza sólida, sobre terreno fértil e vegetação com estreita semelhança ao que se conhece na Crosta e podem ser de tipos diversos, tais como socorristas, correcionais, de estudo, de desenvolvimento das artes, de pesquisas no conhecimento científico e muitas outras17. Há colônias especializadas no atendimento às crianças, um misto de escola de mães e domicílio dos pequeninos que regressam da esfera carnal18.
As colônias apresentam prédios, pátios, jardins, casas, parques, árvores, hospitais, lazer, bibliotecas, onde os Espíritos trabalham, estudam, reúnem-se às suas famílias desencarnadas, quando possível, e descansam. Tal conceito foi amplamente abordado na série denominada A Vida no Mundo Espiritual, psicografada pelo espírito André Luiz, através do médium Chico Xavier, iniciada pelo livro Nosso Lar.
Allan Kardec, nas obras básicas da Doutrina Espírita, não se refere explicitamente às colônias, mas nela se encontram algumas referências a isso. Os Espíritos informam que no mundo invisível há elementos materiais disseminados por todos os pontos do espaço na atmosfera e que eles têm um poder sobre esses elementos que se está longe de suspeitar. Eles podem concentrar a sua vontade nesses elementos e fazem a matéria etérea passar pelas transformações que queiram19.
Em uma comunicação, o Espírito de uma condessa chamada Paula faz uma comparação da Terra com o mundo espiritual: “Os vossos palácios de dourados salões, que são eles comparados a estas moradas aéreas, vastas regiões do espaço matizadas de cores que obumbrariam o arco-íris?”20.
Os Espíritos informam, ainda, que na erraticidade se aplicam a pesquisar, estudar, observar.¹ Onde poderiam executar essas atividades, se não em locais que ofereçam uma estrutura adequada para isso?
Nas colônias, é natural que a luta do bem para extinguir o mal ou o desequilíbrio da mente continue com as características conhecidas na Crosta da Terra. O interesse pela ascensão do Espírito aos planos superiores é a marca de todos aqueles que já despertaram para o respeito a Deus e para o amor ao próximo. O trabalho do bem é incessante, a religião não tem dogmatismo, a filosofia acata os melhores pensamentos onde eles se manifestem, a ciência é humanitária e o esforço pelo próprio aperfeiçoamento íntimo é impulso infatigável em todas as criaturas de boa vontade21.
Existem centenas de colônias em torno da Terra, obedecendo às leis que regem os seus movimentos de rotação e translação21. Algumas dessas colônias são descritas no livro Moradas Espirituais17, mas há referências em muitos outros livros. Cada uma delas apresenta particularidades essenciais quanto à estrutura, de acordo com a sua finalidade e permanece em degraus diferentes na grande ascensão. As colônias em formação buscam inspiração nos trabalhos de abnegados trabalhadores de outras esferas7.
Existem colônias localizadas nas zonas umbralinas, como anteriormente citado, mas também outras situadas em zonas espirituais mais elevadas. Em diversos livros, há a descrição do momento de uma prece, quando emissários dos planos superiores irradiam energias sutis que são captadas por aquele que ora e daí então são transmitidas aos presentes. Nesses planos superiores, onde habitam esses emissários divinos?
No livro Memórias de um Suicida22, o autor espiritual foi recolhido da zona de sofrimento e conduzido para a colônia correcional Maria de Nazaré. Essa mesma obra fala de Caravanas fraternas, de Espíritos em estudo e aprendizados beneficentes, assistidas por Mentores eméritos, que penetravam aquela tristonha região, provindas de zonas espirituais mais favorecidas.
No livro Transição Planetária9, é descrita a colônia Redenção em operosas atividades de resgate e uma outra sobre Minas Gerais, ambas situadas em zonas superiores. O intercâmbio entre as colônias espirituais é constante e natural, tal qual acontece na Terra entre as diferentes comunidades que se sustentam e confraternizam. Embora cada qual possua as suas próprias e específicas características, todas operam em favor do desenvolvimento moral dos seus habitantes desencarnados, preparando-os para os cometimentos futuros nas reencarnações abençoadas.
André Luiz, no livro Sexo e Destino,23 fala do instituto Almas Irmãs, um hospital-escola destinado ao acolhimento daqueles necessitados de reeducação sexual. Após o resgate das regiões trevosas, são admitidos e recebem tratamento, planejamento e amparo na reencarnação. Aqueles que aproveitam os recursos e vencem as provas, recebem oportunidades de trabalho, em estâncias superiores. Em Nosso Lar7, descreve moradias mais elevadas, em que mora a Ministra Veneranda e tem a oportunidade de visitar a genitora na sua elevada colônia em um sonho, por desdobramento. No livro Os Mensageiros14, fala de Ismália, que tem residência num plano superior ao do esposo, Alfredo, mas vem visitá-lo mensalmente para infundir-lhe ânimo.
Emmanuel nos relata uma formosa cidade espiritual, nas adjacências da Crosta Planetária24 onde iluminado orientador preparava falanges enormes de Espíritos convertidos ao Bem para a batalha de suor e sangue o retorno à carne na época em que os cristãos desapareciam nas fogueiras e nas cruzes, nos suplícios intermináveis ou nas mandíbulas das feras.
No livro Renúncia25, descreve um templo de trabalho e oração ligado às esferas de Sírius, onde Alcione roga o seu retorno à encarnação na Terra. Tem majestosas proporções e é dominado por pensamentos intraduzíveis. Nesse templo, os trabalhadores prestavam auxílio ao planeta Terra. Alcione trabalhava auxiliando os benfeitores da Arte terreal relativamente ao ritmo e harmonia musicais. Ela foi desligada das suas obrigações a fim de que se adaptasse às situações adversas das regiões inferiores pois para isso deveria gastar quase dez anos terrestres.
A cidade espiritual mais conhecida dos leitores espíritas é Nosso Lar, apresentada nos livros do Espírito André Luiz. Abaixo, relatam-se as descrições, apresentadas no próprio livro7.
Colônia consagrada ao trabalho e ao socorro espiritual, nela habitam homens e mulheres, jovens e adultos, que já se desvencilharam do corpo físico e que, após o decurso de estágio de serviço e aprendizado, voltam a reencarnar, para atividades de aperfeiçoamento. “Nosso Lar” foi fundada por portugueses desencarnados no Brasil, no século XVI, por meio de enorme trabalho, considerando estar em região próxima ao Umbral, na qual havia “substâncias ásperas nas zonas invisíveis à Terra, tal como nas regiões que se caracterizam pela matéria grosseira“.
A partir da descrição de André Luiz, nota-se que apesar da colônia possuir tecnologias e recursos mais avançados, além da forma e tipo de matéria aprimorada, havia grande semelhança com as estruturas do mundo material, com organização e elementos (praças, casas, edifícios, parques e bosques) similares. Quanto a isso, o personagem Lísias ainda revela que as cidades terrenas, na verdade, são inspiradas nas cidades espirituais, pois toda manifestação de ordem procede do plano superior, de modo que “nenhuma organização útil se materializa na crosta terrena, sem que seus raios iniciais partam de cima“.
A colônia se divide em áreas, sob a responsabilidade de seis Ministérios, quais sejam: o da Regeneração, do Auxílio, da Comunicação, do Esclarecimento, da Elevação e da União Divina. Cada Ministério está sob a orientação de doze Ministros. Na praça central, há o ponto de convergência, onde fica a Governadoria.
Há rigorosa observância da ordem e da hierarquia, no sentido de que nenhuma condição de destaque é obtida por meio de favor, decorrendo necessariamente do merecimento. Contudo, no planeta, o mérito é aferido pelo resultado, enquanto nas colônias, sem a visão limitada dos Homens, conta-se mais o progresso realizado que a estagnação em uma posição moral e intelectiva, ainda que relativamente superior.
A lei do descanso é respeitada, de modo a não sobrecarregar os servidores, porém a “a lei do trabalho é rigorosamente cumprida”. O Governador, inclusive, é descrito como o trabalhador mais dedicado e que quase nunca repousa.
A obra Nosso Lar fala inclusive da necessidade de nutrição, com relatos de caldos, sucos e frutas, que se assemelham a concentrados fluídicos. Apesar de haver necessidade de alimentação em toda a colônia, há diferenças quanto à feição substancial: enquanto nos Ministérios da Regeneração e do Auxílio, onde permanecem os espíritos em recuperação ou no desempenho de trabalhos mais pesados, há substâncias alimentícias que lembram as do mundo material, existem outros Espíritos que dominam a “ciência da respiração e da absorção de princípios vitais da atmosfera”.
Ademais, existe água na colônia, porém com outra densidade, mais tênue e pura, e que tem como fonte de abastecimento o chamado Rio Azul. O livro destaca que a água é “veículo dos mais poderosos para fluidos de qualquer natureza”, sendo utilizada principalmente como alimento e remédio. Relata que, após a magnetização das águas do rio por trabalhadores do Ministério da União Divina, outros institutos realizam trabalhos especiais, no suprimento de substâncias alimentares e curativas.
Em Nosso Lar há, também, um indicador de remuneração, denominado bônus-hora. Exerce uma função semelhante ao dinheiro, porém não é propriamente moeda, mas ficha de serviço de cada Espírito. Os habitantes possuem acesso a vestuário e alimentação essenciais, cuja produção pertence a todos. Da mesma forma, as construções em geral representam patrimônio comum, sob controle da Governadoria.
Todavia, aqueles que cooperam ativamente, conseguem a aquisição de outras utilidades e benefícios, como fruto do próprio esforço. Por exemplo, é possível que cada família espiritual obtenha um lar, tal como o do enfermeiro Lísias, visitado por André Luiz e descrito como “ambiente simples e acolhedor”, com “móveis quase idênticos aos terrestres; objetos em geral, demonstrando pequeninas variantes”.
Apesar da utilização do bônus-hora como parâmetro, verifica-se que a verdadeira aquisição por meio do trabalho é de cunho espiritual: a experiência, o aprendizado, a extensão de possibilidades.
No que tange à locomoção, o livro Nosso Lar expõe a existência de um veículo suspenso do solo, para transporte de passageiros, com enorme comprimento, ligado a fios invisíveis. Há notícias de que alguns Espíritos da colônia possuem a capacidade de volitar, ou seja, de se deslocar a alguma distância do solo. Contudo, o transporte de espíritos resgatados do Umbral é feito de forma mais rústica, devido à densidade da matéria e também por espírito de compaixão com os que lá permanecem. André Luiz, por exemplo, foi levado por dois trabalhadores, por meio de um lençol usado como maca Posteriormente, já como trabalhador da colônia, relata a chegada de uma caravana de socorro que contava com seis grandes carros puxados por animais.
Essa é uma das razões pela qual as colônias de socorro se localizam nas zonas umbralinas, para que estejam mais próximas dos necessitados, diferentemente daquelas de níveis espirituais mais elevados, em que, apesar da dedicação a outras atividades, que não o acolhimento direto, sempre desempenham muito trabalho na assistência em nome de Jesus.
Considerando a diversidade de cenários possíveis no além-túmulo, mostram-se improdutivos eventuais questionamentos quanto ao destino de outras pessoas no retorno ao mundo espiritual, ou mesmo tentar criar regras comparativas. Cada criatura é um ser único, um verdadeiro universo, de modo que cada desencarnação é singular9. Os casos apresentados na literatura espírita têm a finalidade apenas de expor parâmetros e possibilitar esclarecimentos, de modo a incentivar cada pessoa na reflexão em seu próprio progresso moral.
Os encarnados, todavia, possuem um recurso importante, que permite a colaboração para com aqueles que se desligaram do corpo físico, que são as boas vibrações. Todos possuem em si, pelo pensamento e pela vontade, um poder de ação que se estende bem além dos limites de nossa esfera corporal, por meio da oração¹.
Apesar de a prece não resultar na mudança dos desígnios de Deus, a alma para a qual se ora recebe um alívio quando encontra almas caridosas que compartilham das suas dores. O desejo de melhorar, estimulado pela prece, atrai para o Espírito sofredor os Espíritos melhores, que vêm esclarecê-lo, consolá-lo e dar-lhe esperança¹. Importante considerar que, acima de todas as circunstâncias, encontra-se Jesus e a Sua doutrina de amor, que corrige e ampara, sem nunca deixar a sós aqueles que O buscam na sua ânsia de serem felizes5.
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