* Márcia Léon e médica, vice-presidente da Associação Médico Espírita do Planalto e coordenadora do Departamento de Família da AME Brasil

 

“Não julgueis, a fim de não serdes julgados; porquanto sereis julgados conforme houverdes julgado os outros; empregar-se-á convosco a mesma medida de que vos tenhais servido para com os outros.” Jesus (Mateus, 7:1 e 2.)

 

Durante a trajetória de Jesus em nosso orbe planetário, tivemos a oportunidade histórica de consolidar a Segunda Revelação dos preceitos divinos na rotina dos dias terrenos à época. O modelo e guia da humanidade, o farol de condução de nossas vidas, ensinou e exemplificou, acolheu e curou , amou e consolou os corações que dele se aproximaram em plena luz do dia às margens do Tiberíades e à sombra da  noite na casa de Simão Pedro,  em busca de algo mais que completasse e norteasse as suas vidas.

Mas foi na planície da Galileia, que ele pregou a mais bela sequência de orientações , as bem-aventuranças, um roteiro seguro de alcançar a busca de si mesmo de acordo com as leis divinas que já cruzavam pela Terra, desde tempos imemoriais em que o princípio inteligente aqui aportou e iniciou a sua caminhada gradativa em busca da perfeição através das conquistas internas, muitas vezes passando por experiencias e aprendizados dolorosos.

Dizia o Mestre que  “Os humildes alcançarão o céu, os que choram serão consolados, os mansos herdarão a terra, os que tem fome e sede de justiça serão fartos, os misericordiosos alcançarão misericórdia, os limpos de coração verão a DEUS, os pacificadores serão chamados filhos de DEUS, os perseguidos por causa da justiça obterão o reinos do céus e terão o galardão nos céus aqueles que forem injuriados e perseguidos por serem fiéis à Jesus.”¹

O mundo não seria mais o mesmo, após o Sermão do Monte . As orientações ali estavam dadas, para que o homem de todos os tempos pudessem fazer delas um abecedário em suas vidas. Ali estavam o roteiro da caminhada para dentro de si, o mergulho interior, para que no momento que estivéssemos frente a frente conosco mesmos, pudéssemos caminhar a passos seguros.

Mas, ao observarmos atentamente a narrativa de Mateus acerca do Sermão do Monte, ao passar dos séculos, vemos que ainda estamos caminhando desordenadamente, apesar das orientações. Buscamos por caminhos e rotas seguros mas ainda tropeçamos pelos  caminhos tortos na estrada interna  de nós mesmos.

Allan Kardec em O Evangelho Segundo o Espiritismo², fundamenta a estrutura desta obra nas lições de Jesus, em especial às passagens do Sermão do Monte. E no capítulo X, onde discorre sobre a misericórdia, nos chama a atenção para uma das falhas que nós, moradores desta casa planetária, mais temos dificuldades de conciliar e corrigir no dia-a-dia: o julgamento e a dificuldade de sermos indulgentes para com as faltas alheias e muitas vezes para com as nossas próprias faltas.

A palavra julgar está atrelada ao significado de formar um  conceito, emitir um parecer  acerca de alguém ou de alguma coisa. Traz, em última instância, o personalismo, o orgulho e o egoísmo à tona.  E quando não observado atentamente,  e na sua cronicidade da repetição,  causa de adoecimento do ser espiritual que o pratica.

O personalismo desmedido, não observa o outro de modo fraterno. Ele julga o outro a todo momento. Emite opiniões e rotulações de toda ordem. Busca minimizar e apequenar aquele que convive consigo sem se preocupar com o sentimento alheio. Causa sofrimento. Causa soluções de continuidade nas emoções e corrobora para que aquele que é alvo da sua ação, se descaracterize e sofra.

Mas Jesus esclarece que à medida que julgarmos, que influenciarmos negativamente o outro, seremos também julgados na mesma medida. Não há como burlar a LEI, em especial a Lei de Amor,  sem coletar o que se plantou. Não há como causar sofrimento ao coração alheio sem consequências maiores para si. É no aprendizado pela mesma medida, que angariamos experiências educativas.  É a própria criatura que busca, ao longo do tempo, através de rogativas maiores, oportunidades de se realinhar com a fraternidade universal exemplificada por Jesus.

Muitos daqueles, que no passado pesaram a sua mão no julgamento indevido, na opressão incisiva, retornam hoje angariando e suplicando pelos sentimentos de compaixão. A sua firmeza ostensiva no julgamento de ontem, causando males de toda ordem, volta hoje subjacente  às lições do aprendizado imemorável para o espírito imortal. E aí, vemos nos dias de hoje tantos transtornos emocionais, tantas instabilidades dos sentimentos, tantos adoecimentos físicos e  psíquicos buscando socorro dentro dos consultórios para aquilo que outrora despertou no outro, muitas vezes  os mesmos  sentimentos e emoções vilipendiados pelo excesso de julgamento e personalismo.

Porém, a mão que oprimiu anteriormente, tem a oportunidade de buscar no dia de hoje a reparação de suas faltas exemplificando assim, que o reino de Deus renasce em nós em oportunidades, todos os dias.

Recordamo-nos  da fala de Pedro em sua primeira carta: “…tendo antes de tudo ardente amor uns para com os outros, porque o amor cobre uma multidão de pecados.”³ É no amor incondicional, aprendido gradativamente ao longo de todo o percurso reencarnatório, que nos libertamos dos equívocos do passado.

Jesus nos trouxe, em toda a sua fala e na sua exemplificação de vida, de que podemos mudar rotas e destinos. Trazemos internamente a potência infinita dos aprendizados espirituais. O opressor de ontem se torna o contemporizador de hoje e o promotor da indulgência amanhã. Por isso mesmo, Jesus  definiu o significado da palavra caridade para consigo e para com o próximo: “benevolência para com todos, indulgência para as imperfeições dos outros, perdão das ofensas.”(4)

Sempre é tempo de renovação!

 

Referências Bibliográficas:

  • João Ferreira de Almeida, Bíblia Sagrada, Mateus, Cap5, vv 3-11, Ed Gigante, 2011
  • Allan Kardec, O Evangelho Segundo o Espiritismo, Bem Aventurados Aqueles que são Misericordiosos, Cap X, Ed FEB, 2013
  • João Ferreira de Almeida, Bíblia Sagrada, 1 Pedro, Cap 4, v 8, Ed Gigante, 2011
  • Kardec, Allan, Livro dos Espíritos, Da lei de justiça, amor e caridade, perg. 886, Ed FEB, 2013

 

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