1- O QUE É A COMUNICAÇÃO?

2- O QUE É A VIOLÊNCIA?
3- COMO ERA A COMUNICAÇÃO DE JESUS?
4- O QUE É A CNV?
5- COMO APLICAR?
6- EXEMPLOS
7- JESUS E ALGUNS EXEMPLOS DE CNV
8- POR QUE MUDAR?
9- APLICANDO A CNV NO CENTRO
10- APLICANDO A CNV EM CASA.

 

O QUE É COMUNICAÇÃO?

O assunto é da maior importância: saber se comunicar.

Comunicar é partilhar algo com alguém; é participar da vida do outro e deixar que ele participe da nossa vida também; é tornar a vida comum aos que interagem. Comunicar é um processo no qual partilhamos informações fundamentais para a vida em sociedade.

Assim, comunicamos quando falamos, quando calamos, quando escrevemos, quando usamos uma expressão gestual, quando vamos ou quando deixamos de ir, pois, como diz a canção, “tudo quer nos revelar”, tudo transmite uma mensagem, estejamos conscientes disso ou não.

Saber se comunicar, entretanto, é bem diferente de se comunicar, pura e simplesmente. Quando gritamos, quando agredimos, quando maltratamos, quando nos apropriamos do que não é nosso, estamos também nos comunicando, de alguma forma, ainda que de maneira completamente inapropriada.

Há alguns dias, colaborando com os trabalhos de uma escola pública, deparei-me com a situação de um aluno com grandes dificuldades de relacionamento interpessoal e deficiências no desempenho no processo de aprendizagem. Ocorre que este mesmo aluno, no ano anterior, era completamente diferente: amigo de todos, participativo, respeitador e com boas notas. O que teria acontecido? A conversa com o aluno foi reveladora: “Meu pai entra em casa, fala com minha mãe e com meus irmãos, mas não fala comigo. Meu pai está de mal de mim.”

Nenhum grito, nenhuma agressão física, mas uma comunicação eivada de  violência.

Será que já percebemos como a comunicação violenta, agressiva, não empática é profundamente ineficiente? Como ela rouba a oportunidade de nosso entendimento? O que este pai queria ter dito a este filho, expressando sua preocupação, seus medos, seu cuidado, seu amor, mas não conseguiu dizer?

Esta é a questão fundamental para pensarmos juntos: é pelo processo de comunicação que somos apresentados aos outros, bem como somos apresentados a nós mesmos. Comunicação é instrumento de evolução.

O Livro dos Espíritos, em sua questão 115, esclarece: “Deus criou todos os Espíritos simples e ignorantes, isto é, sem saber…”. Rumo ao cumprimento de nossa missão evolutiva é fundamental que desenvolvamos a consciência de nós mesmos, a nossa autopercepção. Para tanto, saber se comunicar é medida de urgência.

Pensando em tornar o processo de comunicação mais eficiente, mais efetivo e mais empático, o psicólogo americano Marshall Rosenberg lançou as bases da Comunicação Não Violenta, CNV, na década de 60.  A abordagem havia sido inspirada no comportamento de grandes líderes contemporâneos da paz no mundo, como Martin Luther King Jr e Gandhi.

A CNV, como método que colabora para a melhoria da interação social, é profundamente simples. São apenas 4 passos. Colocá-los em prática, entretanto, exige de todos nós uma jornada de maturidade, de humildade e de disciplina.

Saiba que OBSERVAR é o primeiro passo, o passo inicial desta jornada. Parece simples, mas não se engane. Jesus Cristo já nos advertia há 2000 anos: “Não julgueis e não sereis julgados. Pois, vós sereis julgados com o mesmo julgamento com que julgardes; e sereis medidos, com a mesma medida com que medirdes” (Mt 7, 1-2).

Se julgássemos e invariavelmente compreendêssemos os outros e os perdoássemos, Jesus não teria nos advertido para não julgar. A questão é que quando julgamos, costumeiramente condenamos e isto afasta qualquer possibilidade de entendimento entre as pessoas.

Assim, OBSERVAR é deixar de lado os julgamentos e as interpretações pessoais e se ater pura e simplesmente ao que acontece, aos fatos. Você diria a seu filho adolescente, no acompanhamento que faz das obrigações em casa, usando a técnica da CNV, observação sem julgamento: “Filho, a louça da pia do almoço não foi lavada, mas era sua tarefa de hoje”. Se fosse julgar, por outro lado, explodiria em indignação: “Filho, você não lavou a louça do almoço até agora. Como você é preguiçoso!”.

Percebam com a comunicação violenta, que julga, provoca obstáculos ao entendimento, pois efetivamente não sabemos porque o filho deixou de fazer sua tarefa.

Como segundo passo, a CNV sugere um mapeamento dos SENTIMENTOS envolvidos na situação. Em nossos sentimentos, não nos sentimentos dos outros. Sentimentos ditos positivos (alegria, entusiasmo, alívio, amor, etc.) são acolhidos e incentivados pela sociedade. Assim, temos a tendência de reconhecê-los e aceitá-los mais facilmente. Sentimentos negativos (raiva, mágoa, ciúmes, ódio, indignação, etc.) são socialmente afastados, e temos dificuldades em aceitá-los e reconhecê-los em nós.

Aqui está uma das grandes contribuições da CNV para nosso autoconhecimento, em nosso processo evolutivo: compreender que cada sentimento está ligado a uma necessidade pessoal. Sentimentos positivos são a sinalização de necessidades pessoais atendidas. Sentimentos negativos apontam para necessidade pessoais não atendidas.

Conhecer nossas reais necessidades é fundamental para nosso amadurecimento.

O que ocorre normalmente é que no processo de comunicação camuflamos nossas necessidades e de uma maneira totalmente ineficiente queremos que elas, mesmo assim, sejam satisfeitas. Nos exemplos anteriores, não se sabe o que o pai do aluno que ficou “de mal” do seu filho queria, quais eram as suas necessidades; no caso das louças para lavar, se os pais apenas desqualificarem o filho, o que isto gerará de transformação no lar?

Atentos aos sentimentos, é hora de passarmos ao passo seguinte: identificação de nossas NECESSIDADES.

Aqui, as necessidades são reconhecidas no âmbito pessoal. É aquilo que, se realizado, faria nossa vida ficar melhor. Assim, temos necessidades de “paz”, de “sermos amados”, de “sermos compreendidos”, de “ sermos valorizados”, de “sermos bons pais”, de “sermos bons maridos, mulheres e filhos” etc.

O quarto passo da CNV, a sua culminância, é dirigir ao outro, àquele com quem se fala, uma PEDIDO EMPÁTICO.

O que vem a ser isto? Não se trata de qualquer pedido, mas de um pedido que, alinhado com OBSERVAÇÃO SEM JULGAR, identificação do SENTIMENTO e da real NECESSIDADE, expresse nosso desejo de entendimento, para tornar a nossa vida melhor em sociedade.

Quando chamamos o pai do aluno do exemplo acima, aquele que havia ficado de “mal” de seu filho, para conversar, ele ficou profundamente confuso para explicar o seu comportamento, pois achava que tinha sido bastante claro, ao ficar sem falar com o filho, mostrando seu aborrecimento. Depois de conversar com ele sobre os princípios da CNV, atendendo aos 4 passos da técnica, ele disse: Eu vi meu filho andando com outros adolescentes usuários de drogas (fato observável, sem julgamento); fiquei muito triste e preocupado com a situação (identificação dos sentimentos); tenho necessidade de ser um bom pai e fazer a diferença na educação de meu filho (necessidade ainda não satisfeita, pois tratava-se de um sentimento negativo, expresso anteriormente); quero pedir a ele que tome cuidado com suas companhias, que pare de andar com aquela turma.

E foi assim que ele voltou a falar com o filho, expressando agora, com clareza e empatia, toda a sua necessidade. Esta forma de se comunicar passou a ser profundamente eficiente, pois agora o filho passou a saber o que afligia o pai e pode avaliar a possibilidade de atender a seu pedido.

A CNV não é uma técnica para melhorar a comunicação do outro, mas, sim, para aperfeiçoar a nossa maneira de nos expressar. Ocorre, entretanto, que muitas vezes aquele com quem falamos não consegue alcançar a clareza na comunicação que seria desejável. Assim, podemos por meio da CNV ajudá-lo a identificar sem julgar a situação por que passa, identificação dos sentimentos e necessidades ligados à situação, bem como ajudá-lo a fazer pedidos que atendam essas necessidades.

Às vezes, a situação está claramente identificada, sem julgamentos, e os sentimentos aflorados, bastando, apenas, a expressão das necessidades e a formulação do pedido empático, para melhorar a nossa vida.

Vamos agora trazer o tema CNV para o contexto espiritual, mais precisamente lembrando algumas passagens do Evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo, vendo como ele, o príncipe da paz, lidava com os desafios nas relações interpessoais naquele povo, daquela época.

Evidentemente não se trata aqui de medir o comportamento de Jesus pela régua da CNV. É bem o contrário. É vermos como algumas técnicas de comunicação de hoje revelam, ainda que palidamente, a grandiosidade de um espírito puro em sua relação com a humanidade sofredora.

A CURA DO CEGO BARTIMEU (Marcos, 10:47-52) – Jesus ajuda Bartimeu a identificar suas necessidades e fazer seus pedidos.

Quando ouviu que era Jesus de Nazaré, começou a gritar: “Jesus, filho de Davi, tem misericórdia de mim!”

Muitos o repreendiam para que ficasse quieto, mas ele gritava ainda mais: “Filho de Davi, tem misericórdia de mim!”

Jesus parou e disse: “Chamem-no”.

E chamaram o cego: “Ânimo! Levante-se! Ele o está chamando”.

Lançando sua capa para o lado, de um salto pôs-se em pé e dirigiu-se a Jesus.

“O que você quer que eu faça?”, perguntou-lhe Jesus.

O cego respondeu: “Mestre, eu quero ver!”

Vá”, disse Jesus, “a sua fé o curou”. Imediatamente ele recuperou a visão e seguiu Jesus pelo caminho.

Jesus, apesar dos luminosos dons espirituais que carregava, capazes de desvendar qualquer situação, pergunta a Bartimeu: “O que você quer que eu faça?”. O cego responde, expressando sua necessidade e seu pedido: “Mestre, eu quero ver!”.

O FILHO DA VIÚVA DE NAIM – (Lucas, 7 : 11-17) – Jesus se compadece de uma viúva, pela morte de seu único filho.

11 E aconteceu, pouco depois, ir ele à cidade chamada Naim, e com ele iam muitos dos seus discípulos e uma grande multidão. 12 E, quando chegou perto da porta da cidade, eis que levavam um defunto, filho único de sua mãe, que era viúva; e com ela ia uma grande multidão da cidade. 13 E, vendo-a, o Senhor moveu-se de íntima compaixão por ela e disse-lhe: Não chores. 14 E, chegando-se, tocou o esquife (e os que o levavam pararam) e disse: Jovem, eu te digo: Levanta-te. 15 E o defunto assentou-se e começou a falar. E entregou-o à sua mãe. 1

Jesus percebe a situação, identifica seu sentimento: compaixão. Age de acordo com sua necessidade de, naquele momento, sanar a situação aflitiva da viúva.

Por fim, uma questão que salta à vista neste estudo é a clareza no reconhecimento das reais necessidades por parte dos interlocutores de Jesus, quando em sua presença, facilitando enormemente o processo de comunicação.

 

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