A humanidade deve o ensinamento que titula este artigo a Simão Pedro, referido geralmente como São Pedro, estabelecido como o primeiro papa pelo Catolicismo, e reconhecido pelo Cristianismo como o apóstolo a quem Jesus alçou, de pescador nas águas da Galileia, a pescador de almas.

 

A Excelsa Lição

 

Tende ardente amor uns para com os outros, porque o amor cobrirá a multidão de pecados.

 

A Bíblia, em Pedro 1, capítulo 4, versículo 8, contempla a expressão perfeita e completa de sua sabedoria. 

 

A exortação de amor ao próximo, sob coerência irrepreensível aos ditames do Divino Mestre, contém palavras ensejadoras de inadvertida interpretação imperfeita, em virtude de seu emprego metafórico, em semântica inusual e mesmo curiosa. Ainda que se considerem as sucessivas traduções em dois mil anos de disseminação a muitos povos e inúmeros idiomas, com eventuais distorções na transição sequente de aramaico, hebraico, grego, latim e português, permanece cabível a avaliação mais apurada de três vocábulos, no segmento explicativo da oração.

 

O primeiro foco será a flexão do verbo “cobrir”, passível de levar ao incauto entendimento de que a prática do maior mandamento propiciaria a ocultação dos erros e das imperfeições dos agraciados pela ação do amor verdadeiro e incondicional. Nada tão inverossímil perante a justiça divina, que permite a evidência do equívoco tão somente para reavivar o caminho sempre acessível à reabilitação, ao tempo em que não endossa a implausível atenuação da responsabilidade por sorrateira que seja; a remissão caberá sempre ao infrator, resgatando até o último ceitil, conforme a estipulação piedosa do Mestre.

 

A seu turno, a palavra “multidão” reflete à aglomeração de pessoas, animais e coisas, estendendo-se, no contexto em estudo, à esfera abstrata, inobstante inteligível, obtendo o efeito, certamente buscado pelo autor, ou mais provavelmente pelo tradutor ignoto, de conferir pessoalidade às falhas da humanidade encarnada, a fim de lhe exaltar extensão e iniquidade.

 

Por fim, herdado do latim, onde significava falta, delito, o termo “pecado” proviera originalmente de pisar em falso, tropeçar, em curiosa associação que resiste válida na atualidade; extrapola-se, assim, o enfoque estritamente devocional de ofensa ao preceito religioso, para a integralidade da existência, de vez que a fé na condução divina não pode encontrar limitação.

 

A Magnitude do Amor

 

Seria muito difícil, quase improvável, identificar um roteiro mais acertado para a compreensão aprofundada da sublime manifestação do apóstolo supliciado em Roma, que as palavras, igualmente magníficas, de Paulo de Tarso, lídimo bandeirante do Cristianismo, na certeira denominação do filósofo catarinense Huberto Roden, ostentadas em brilhante atualização do texto bíblico de Coríntios 1, capítulo 14, versículos 4 a 7, ofertada pelo portal “Pensador”.

 

A fim de não pecar por pensamentos, palavras e obras, generosa e indispensável advertência do Mestre do Amor, a sabedoria deverá permear cada emoção, cada locução e cada gesto do ser encarnado, especialmente na prática do sentimento maior.

 

As religiões, de modo absoluto, e o Espiritismo, em particular, entronizam o amor como o sentimento essencial, que não escolhe seu objeto, não contém a sua intensidade, não aceita a limitação; por ser verdadeiramente incondicional, ele move o universo.

 

  Que Paulo de Tarso fale pela humanidade, a quem ofereceu, há dois milênios, a sua interpretação magistral do amor.

 

Saber Esperar

 

O amor é paciente.

 

O benfeitor sincero não exige que o irmão em necessidade lhe compreenda prontamente a intenção benévola e a receba sem reservas, correspondendo-lhe a expectativa edificante; o amor verdadeiro não respeita a limitação temporal, entende as dificuldades do próximo e aguarda impassível e incólume que a oportunidade se ofereça otimizada.

 

Ele não se fragiliza com a aparente inatividade ante a resistência temporária a seus eflúvios caridosos, enquanto espera a recepção reconhecida de seu efeito lenitivo e revigorador; o empecilho de qualquer natureza não o abala, antes lhe permite acumular forças para a ação tempestiva, convicta da prevalência do bem.

 

Sempre é tempo para o exercício do amor, o que inclui a sapiência de aguardar o momento em que o seu destinatário esteja mais bem preparado para vivenciar a sua ação reparadora. 

 

Saber Apreciar 

 

O amor não é invejoso.

 

Ninguém pode arvorar-se imune ao contágio deletério das grandes imperfeições do mundo, consolidadas acertadamente como os sete pecados capitais; nem mesmo o crente mais bem intencionado estará a salvo da influência perniciosa da inveja, tão negativa, de início negligenciada, que se imiscui lentamente na intimidade mental do ser, mantendo-se pouco identificável no conjunto de sensações humanas, por natureza, variegado e volúvel.

 

Sintomaticamente, em latim de onde proveio, a palavra “inveja” significava olhar com maldade os bens ou as virtudes de outrem, cobiçando-os indevidamente; a rigor, seria o “mau olhado”. 

 

O amor sincero não se incomoda com o sucesso alheio, porém rejubila-se com o progresso edificante, que avança, mas também traz a harmonia interior, restaurando o discernimento e a capacidade decisória sobre si mesmo; amando incondicionalmente ao próximo, o ser não se apropria do direito de definir a rota redentora que este venha a adotar, admitindo que são incontáveis os caminhos que conduzem à perfeição, atingível em distantes dias.

 

O livre arbítrio de cada criatura, dádiva divina irrevogável e irrenunciável, não se sujeita a injunção de outrem, por benemérita e misericordiosa que se revele, porque a cada um assiste a opção individual a cada passo, conduzindo à superação ou eternizando a dificuldade; de qualquer modo, chegará sempre o melhor momento para a sugestão amorosa de incentivo, como inegável reconhecimento ao discernimento do próximo, apreciando sinceramente o progresso, ou sugerindo a correção suficiente.

 

Saber Conviver 

 

O amor não é arrogante.

 

Dominado pela arrogância, o espírito encarnado habilita-se à prepotência sobre o irmão necessitado, pretendendo dirigir-lhe o comportamento, na suposição, insustentável, de que teria mais conhecimento, experiência e discernimento.

 

Esta característica, tão humana quanto deplorável, não se coaduna à vivência do amor puro e altruísta, cujo praticante contempla o próximo, por fragilizado e vulnerável que esteja, como um ser que se lhe equipara em direitos, virtudes e capacidades. Deste modo, nunca há espaço para o sentimento de superioridade, sempre ilusório, porque a elevação consistente terá sempre a companhia indispensável e constante da humildade, sob a convicção, penosamente adquirida, de que a sabedoria verdadeira desvenda a seu detentor a extensão do que lhe falta aprender.

 

O amor não exacerba a diferença de nível moral ou cultural, ao contrário, concede ao seu alvo a condição veraz de igualdade, sentindo-se confortado pela solidariedade fraterna e companheira, que não faz exigências, não cobra ações ou resultados, não impõe procedimentos ou ideias, mas respeita e convive com a vontade alheia, ainda que se oponha à sua própria em qualquer aspecto da vida, incluindo a crença religiosa.   

 

Saber Crescer 

 

O amor não se ensoberbece.

 

Afirma-se razoável, até mesmo expectável, que o exercício escorreito do bem traga ao espírito, encarnado ou liberto, a satisfação íntima pelo cumprimento da lei maior, a sensação estimulante de reerguimento efetivo, a superação de etapas importantes da evolução espiritual; tal postura interior não pode confundir-se com a assunção menos nobre de vícios morais como a vaidade, o orgulho, e sua emanação mais atroz, a soberba.

 

Sem acaso, o termo “soberba” embute, em sua origem, o prefixo “super” para indicar o sentimento de superioridade, sem motivação admissível; do mesmo modo, “vaidade” deriva do latim “vanus”, que significa vazio, ocioso, explicitando, nos dois casos, o sentido ora vigente. 

 

São percursos evitáveis, indesejados pelo crente ativo, que busca contentar-se suficientemente com o bem-estar do próximo, exercendo o altruísmo e a alteridade complacentes, pelo que não abriga em si a necessidade de ostentar o patamar moral que tenha alcançado, reconhecendo que a edificação é proporcionada a todas criaturas, que se diferenciam apenas pela intensidade do esforço evolutivo.

 

O amor não humilha o recebedor de sua misericórdia consoladora e revigorante, impedindo que se sinta diminuído pela dependência de outro irmão, provavelmente mais bem situado na seara espiritual; fortalece-se destarte o ambiente de fraternidade e companheirismo, propiciador da convivência saudável, em que a posição de socorrista e socorrido é temporária, sujeita-se a modificações circunstanciais, sem excluir a própria inversão situacional. 

 

Ao superar os degraus evolucionários, galgando novos níveis de espiritualidade, sabe o ser que essa vitória implica o respeito amoroso pelos que lhe sucedem os passos, se outras razões não houvesse, pela inelutável consciência de que muitos outros lhe antecederam na escalada.

 

Saber Adquirir

 

O amor não é ambicioso.

 

A vontade de conquistar bens de qualquer natureza, neste orbe onde a matéria remanesce valorizada, não implica a conotação necessariamente negativa, desde que limitada pela moralidade intrínseca do interessado, que o constrangerá a respeitar os direitos e o arbítrio do próximo, sob o risco de prejudicar o exercício do amor incondicional por toda a criação.

 

Portanto, a aquisição de bens materiais, que trazem conforto à existência terrena, ou intangíveis, que aprimoram as virtudes humanas, é legítima e desejável, pois o sentido oposto apontaria para o conformismo ocioso e perdulário, em voluntário desperdício das oportunidades concedidas a toda criatura.

 

O grande desatino da espécie humana é o frequente, quase generalizado, desrespeito à sensatez e ao discernimento, indicadores sensíveis da interação construtiva entre os irmãos, filhos amados do mesmo Pai, extravasando o comportamento para a ambição desmedida, que ignora consequências outras que o atendimento ao interesse individual.

 

O sentido original de “ambição”, a partir do latim, indicava o ato de circundar algo, cercando o objeto desejado, sem maior atenção ao restante, materializando o cenário de uma intenção obtida a qualquer preço, nada importando a eventual afetação a outrem; nesse ambiente, o amor não encontra guarida, sufocado pelo pragmatismo descaridoso, pelo qual os fins justificariam os meios.

 

A exclusão dos efeitos nocivos da ambição desmedida não constitui óbice ao progresso material, intelectual e moral, válido e indispensável ao espírito encarnado, ao tempo em que também adquire crescente sabedoria para o uso escrupuloso de sua riqueza para o bem comum.         

 

Amor verdadeiro significa sentir próximo o irmão em qualquer situação, esteja o seu praticante na habitação humilde, junto aos demais, comungando-lhes necessidades e desejos, ou a distância aparente, no palácio honestamente adquirido, com seus altos muros.

 

Saber Desejar  

 

O amor não busca os seus próprios interesses.

 

A busca do progresso, em nível de ambição compatível à saudável vivência terrena, afasta-se decisivamente de qualquer intenção egoística, egotista ou egocêntrica, deixando nítida a distinção entre essas posturas reprováveis e o desejo genuíno de conquistar bens, conhecimentos e virtudes para melhoria de si próprio, possibilitando melhores condições de ajudar, até mesmo sustentar material e moralmente, o avanço de quantos se apresentem necessitados.

 

O amor compreende a soma de todas as virtudes, valorizando a preocupação desinteressada com a paz, a harmonia e o equilíbrio do próximo, fatores que terão prioridade em relação às próprias carências do ser voltado à prática do sentimento primordial.

 

Essa escala de valores não acarreta o relaxamento do zelo e da prudência com a própria existência, embora existam circunstâncias específicas que impelem o irmão ao sacrifício pessoal, de seus benefícios ou da vida, em favorecimento do próximo socorrido; trata-se de situações extremas e raras, ditadas por resgates penosos e insubstituíveis de graves infrações à lei divina, programados adrede pela inefável misericórdia dos irmãos superiores e admitidos pelo espírito que espera a reencarnação.

 

Portanto, é facultado, e imprescindível, ao irmão encarnado a vontade de enriquecer a travessia terrena, de si mesmo e do próximo, ataviando-a de recursos, confortos e condições mais favoráveis à convivência cristã edificante; deve reconhecer que os bens terrenos são tangíveis pelos sentidos do corpo físico, nada significando para os espíritos libertos que deles não podem, nem precisam, usufruir, cabendo dar a essas aquisições a destinação mais justa e igualitária, beneficiando o maior número de irmãos.

 

A riqueza intangível é também imorredoura, acompanhará a criatura para todo sempre, felicitando-a a cada passo; obtendo-a, o ser estará promovendo o bem em sua plenitude para o conserto geral da humanidade.  

 

Saber Tolerar      

 

O amor não se irrita.

     

Nos últimos anos, tornou-se habitual e recorrente valorizar o comportamento tolerante ante a opinião, tendência, costume ou atitude divergentes, procedimento elogiável que denota compreensão, fraternidade e respeito; entretanto, também predomina, em muitas soluções, a generalização indiscriminada desse conceito, agregando-lhe o sentido de concordância, adesão, cooptação, nem sempre razoável ou desejável.

     

Porque, se a prática da tolerância significa, de fato, a convivência pacífica e harmoniosa entre seres diferenciados em alguns ou muitos fatores, tal não implica ou exige que qualquer deles modifique compulsoriamente suas convicções, apenas reconheça o direito de o próximo pensar e agir de outro modo.

 

Tampouco representa a aceitação da manifestação ou ação afrontosas à lei, à civilidade ou aos valores consagrados pela sociedade, mas a solidariedade humana e piedosa ao infrator, compelindo-o à revisão de seu procedimento.

    

 Consiste, assim, numa emanação mais exigente do amor, pois demanda a confluência misericordiosa da recepção generosa e a orientação redentora.

 

Intentando o amor incondicional, deve o crente mostrar-se intimorato, exercendo a compaixão criativa, a um tempo mantenedora da serenidade interior enquanto ativadora das potencialidades redentoras do irmão em dificuldade.   

 

Portanto, apenas a intolerância é intolerável, porque amor não se irrita com o erro, mas reverte-o ao bem.

 

Saber Perdoar 

 

O amor não guarda ressentimento pelo mal sofrido.

 

Atribui-se a Shakespeare o ensinamento de que a mágoa é o veneno que se toma, pretendendo matar o desafeto, palavras tão sábias quanto desprezadas no comportamento geral.

 

Mantendo-se ressentido, o ser preserva em si mesmo essa poção nociva que lhe maculará as atitudes, sustando o processo de superação ante a ofensa, material ou moral, suposta ou real, com o consequente adiamento do perdão, cada vez mais difícil. 

 

No entanto, deveria recordar e seguir o ditame de Jesus que igualava esse comportamento ao dos fariseus, de famigerada notoriedade por ostentarem a virtude aparente, sem a exercerem de fato; negando-se a perdoar, recusa-se também a prática do amor incondicional, destinado indistintamente a todos irmãos. 

 

Não se trata, certamente, de ofertar a todos o mesmo tipo de amor, de vez que o próprio Allan Kardec, em O Evangelho Segundo o Espiritismo, explica que não pode o crente amoroso dedicar igual afeto a quem o ama e ao que nos manifesta o mal ou a indiferença; porém, será o momento perfeito para mostrar a outra face, abstendo-se de devolver a ofensa, menos ainda a vingança.

 

Nesse sentido, vale citar um ditado árabe, de irreverente realismo, que manda perdoar os inimigos, mas cuidando de lhes anotar o endereço…

 

O amor ilimitado não convive com sentimentos menos nobres, exige o respeito ao conselho anônimo e sábio, que exalta o perdão, ainda que o agressor não lhe faça jus, porque a vítima sempre merece a paz. 

 

Saber Julgar 

 

O amor não se alegra com a injustiça.

 

A Bíblia, em Mateus, capítulo 7, versículo 1, reporta o alerta de Jesus para não julgar, não contraditado, em absoluto, pela exortação inicial, porque o Mestre não interditou o indispensável emprego do discernimento pessoal para avaliar, a todo momento, a presença do bem ou do mal em cada situação que se interponha ao vivente terreno.

 

Não se referia, certamente, a esse julgamento escrupuloso e imprescindível que diferencia o que pode beneficiar ou prejudicar a cada um, indo ao encontro, mais uma vez, do ensinamento de Kardec que propugna a distinção entre o amor confiante, pelos irmãos amistosos e sinceros, e o amor tolerante e cuidadoso, pelos que não ainda não comungam esses ideais de fraternidade.

 

Justifica-se assim a repulsa a qualquer injustiça, pois o amor não poderia cooptar o procedimento ofensivo a qualquer irmão, sob qualquer natureza; o magno sentimento reconhece que a liberdade individual se estende ao limite da liberdade do próximo, que a detém em idêntica intensidade e direito.

 

Entretanto, Jesus recomendava que o ser encarnado se abstivesse de observar o comportamento do próximo como um juiz moralmente superior, incapaz dos mesmos erros, com poder condenatório e anatematizador, mas expressasse ao infeliz equivocado a sua compreensão e o consolasse para a remissão de suas faltas; essa postura piedosa não implica a convivência acomodada com o erro, que merece o combate incansável.

 

Em época mais recente, vale recordar o exemplo do Papa Pio XII, entre o final dos anos 1950 e a década seguinte, quando coordenou um trabalho de assistência às prostitutas de Roma, sendo criticado pela suposta admissão de um comportamento inaceitável; em lição memorável, ele explicou que a Igreja Católica condenava o pecado, mas não abandonava o pecador.

 

Vale para a humanidade: a repulsa à injustiça não significa a recusa ao amparo misericordioso e regenerador ao irmão infrator temporário da lei divina.

 

Saber Resignar 

 

O amor regozija-se com a verdade.

 

Símbolo da plenitude espiritual, o amor reflete a simbiose perfeita da compaixão misericordiosa pelo próximo e o realismo dos fatores que impregnam a existência.

  

As circunstâncias que direcionam a travessia terrestre exibem-se, de fato, incontáveis, imponderáveis e imprevisíveis, compondo um cenário, por vezes, tão inusitado, que consegue fragilizar conceitos e posicionamentos cristalizados até então, situação passível de imergir na dúvida o ser menos esclarecido, ou inadvertido, quanto à melhor decisão a cada passo.

 

Todavia, a honestidade sincera da criatura dedicada ao amor inabalável não experimenta tal dilema, de vez que a sua intenção pura e benevolente será sempre atraída para a vereda edificante, aureolada pelo bem imensurável que lhe comanda os sentidos, os pensamentos e os instintos.

 

Na lida cotidiana, a verdade nem sempre reluz com intensidade suficiente para evidenciar-se à perquirição mais apurada, mas a fé inflexível na condução divina mostrará à criatura que a orientação superior é infalível, bastando-lhe ouvi-la com o coração, cedendo a seus eflúvios doces e inspiradores. 

 

Desse modo, o verdadeiro amante da verdade reconhecerá e aceitará a sua manifestação inefável, ainda que lhe contrarie a vontade incipiente, por sua origem superior, concedendo que a própria consciência lhe imponha a resignação produtiva, que recepciona a dádiva irrecusável, dispondo-se a galvanizá-la para os lídimos e mais elevados objetivos.

 

Adquirido o necessário convencimento, qualquer hesitação no apoio à realidade corresponderia à vacilação debilitante, que não se aproxima da postura amorosa; a verdade será invariavelmente reverenciada e promovida, sem laivos de inveja, arrogância, soberba ou ambição, sentimentos sempre apartados da prática do bem ao próximo.

 

A verdade sempre alegrará aqueles que têm o amor por mandamento primaz. 

 

Saber Relevar 

 

O amor tudo desculpa.

 

Frequentemente utilizados como sinônimos, a etimologia indica que os termos “perdoar” e “desculpar” não coincidem rigorosamente em origem e significação.

 

No primeiro caso, trata-se, necessariamente, da relação direta entre ofensor e ofendido, e implica a remissão completa do erro, eliminando sua execução e neutralizando seus efeitos, pelo que o perdoador consente que o infrator deixe essa condição, nada ficando a dever-lhe. O outro ato não aparenta, de resto, o mesmo rigor, equivalendo à desconsideração da falta, supostamente menos grave, pois o desculpador, geralmente por ela não alcançado, na prática, decide ignorá-la por inexpressiva, sem contrapartida do beneficiado.

 

O amor sempre faz todo o bem possível, atuando igualmente no perdão regenerador e na desculpa construtiva, para que o progresso moral de todas as partes envolvidas se concretize em evolução consistente e duradoura.

 

Quem releva uma circunstância desfavorável considera-a desimportante no contexto vivenciado, pela sua relativa pequenez, pelo seu distanciamento pessoal, ou ambos, preferindo concentrar seu esforço na reedificação consentânea dos protagonistas.

 

Essa atitude nivela os seres, apesar de sua diversidade inicial, igualando-lhes as condições para a colaboração recíproca e a elevação concomitante.  

 

Saber Acreditar 

 

O amor tudo crê.

 

A interpretação literal da premissa epigrafada levaria à assunção de uma crença ingênua, que admitiria viável qualquer acontecimento, por esdrúxulo, absurdo ou até surreal que se mostre, caracterizando inegável afastamento da realidade inquestionável.

 

O amor exerce a fé raciocinada, avaliando previamente os sucessos futuros e sua plausibilidade ante as leis que comandam a natureza, pelo que o sentimento primordial jamais afrontará os desígnios divinos, sob lógica irrefutável, uma vez que também ele deve a sua existência à vontade soberana do Criador.

 

Nestes limites, nada será, de fato, impossível, pois afastados estarão o milagre, o prodígio, o sobrenatural, mantendo-se intacta a esperança redentora do evento extremo, difícil, mas realizável, que viria como dádiva recompensadora do esforço infatigável e da dedicação constante e acendrada.

 

O amor acreditará sempre na recuperação do espírito livre pensante, na matéria ou no espaço, irmão em tudo semelhante, principalmente como filho do mesmo Pai Amorável, jamais apenado ao sofrimento infindo, porém destinado à felicidade plena na perfeição da presença divina.

 

Saber Confiar 

 

O amor tudo espera.

 

A esperança é companheira inseparável do amor, que sempre terá a melhor expectativa sobre os rumos da humanidade, augurando que os espíritos, em sua vereda imortal, decidirão, cedo ou tarde, pela direção correta, redentora infalível e merecida por toda a criação dimanada da Eterna Luz.

 

 Crendo e raciocinando, o exercente do amor não propugna a solução extraordinária, capaz da supressão instantânea da dificuldade; entretanto, incentiva o trabalho decidido, intrépido e infatigável da criatura fragilizada, em benefício de si mesma, acreditando que se deve enxergar a dor como o alarme generoso, a desafiar a multiplicação de forças e recursos sempre à disposição do ser em reerguimento.

 

O sentimento maior advoga a resignação, nunca o conformismo, pois a fé verdadeira precisa acompanhar-se da atitude compatível ao objetivo edificante, na certeza consciente de que a perfeição espiritual, ainda remota conquanto exequível, não contemplará a inação, porém o labor incessante pelo bem de todos, já que Deus trabalha sempre na expressão de seu amor, lembrada no ensino bíblico de João no capítulo 5, versículo 17.

 

Saber Resistir 

 

O amor tudo suporta.

 

O irmão bem e unicamente intencionado no auxílio ao próximo, cônscio de suas próprias limitações, não se subtrai à constatação, inescapável e humilde, de que essa postura pode ser insuficiente para o perfeito entendimento, e consequente aceitação, do destinatário de sua boa vontade.

 

Mister se faz que esteja preparado para a ignorar a incompreensão, para enfrentar a rejeição, para conviver com a ingratidão, sabedor da validade piedosa do provérbio oriental, que exorta o amor mais intenso justamente pelos que menos pareçam merecê-lo, pois são os mais necessitados.

 

Essa resistência, de genuíno estoicismo, precisa municiar o pretendente ao exercício da caridade maior, que tudo oferece sem nenhum retorno esperar, possível sendo que o agradecimento não venha, que falte o reconhecimento, que faleça a reciprocidade; a recompensa do irmão beneficiado pode ceder à ignorância, até mesmo à agressão disparatada, sem lugar, porém, para o desalento, evitado pela certeza da misericórdia divina, que lhe trará farta compensação pelos desatinos terrenos.

 

É o Amor!

 

O amor é a força do universo.

 

É ele que o mantém coeso e em expansão interminável, propiciando a vivenda adequada a cada espírito, em todos os mundos, em todas as dimensões, em todos os tempos.

 

É ele que abriga a humanidade única e em diversificação infinita, respondendo a cada demanda, para o benefício geral, jamais permitindo a resposta ausente.

 

É ele que atende a todo chamado à sua ação benevolente, vencendo as dores, superando os sofrimentos, avançando sobre os obstáculos, como ponte infalível para a travessia de toda criatura.

 

Ele está presente nos amigos que compartilham gostos, alegrias, interesses, atividades, sob a égide da solidariedade real. 

 

Ele acompanha o casal que se une pela comunhão de sentimentos e vontades, iluminando a caminhada a dois que fortalece a ambos.

 

Ele comparece aos irmãos que se querem, nascidos sob o mesmo afeto para multiplicarem o amparo que a todos alcança.

 

Ele se engrandece na mãe que ama o filho antes de o ver, que lhe concede a luz e o mundo, que lhe protege a vereda da vida inteira.

 

É por ele que o Pai Maior trabalha e cria por todo sempre, inundando cada instante de toda criatura com o seu amor infinito, oferecendo incontáveis oportunidades para que cada uma retorne aos seus braços, aguardando pacientemente.

 

Deus é Amor!

 

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