Regina de Fátima Rodrigues de Souza
1ª Vice-presidente de Unificação da FEDF
A reunião mediúnica é um encontro de trabalhadores espíritas com a finalidade de exercitar a mediunidade de forma segura, acolhendo os espíritos desencarnados nas suas dores e aflições. É um momento de muito aprendizado, no qual o médium desenvolve a capacidade de sentir a dor do outro, se colocar no lugar do seu semelhante, aprendendo a amar e a auxiliar quem verdadeiramente necessita.
No livro Orientação ao centro espírita, a Federação Espírita Brasileira apresenta duas reuniões:
- Estudo e prática da mediunidade
É uma reunião teórico-prática de estudo da mediunidade, privativa, constituída de pessoas que possuem conhecimentos básicos do Espiritismo. Essa reunião tem por objetivo: estudar a mediunidade com base nos ensinamentos constantes em O livro dos médiuns e demais obras da codificação da Doutrina Espírita, além de outras obras que guardam concordância com o Espiritismo; desenvolver a mediunidade e contribuir para a educação intelecto-moral dos participantes; preparar trabalhadores de forma continuada para atuarem nas reuniões mediúnicas; formar adeptos esclarecidos, capazes de compreenderem a mediunidade e a ação dos espíritos nas diversas circunstâncias da vida. ¹
- Reunião mediúnica
É uma atividade privativa, séria, instrutiva, de intercâmbio espiritual integrada por trabalhadores que possuam conhecimento e formação espírita do Espiritismo compatível com o objetivo da tarefa. Segundo Allan Kardec, uma reunião só é verdadeiramente séria quando se ocupa de coisas úteis, com exclusão de todas as demais. ²
Ainda segundo Kardec: uma reunião é um ser coletivo, cujas qualidades e propriedades são a resultante das de seus membros e formam como que um feixe. Ora, este feixe tanto mais força terá quanto mais homogêneo for. ³
É importante observar que a reunião mediúnica apresenta a interação de duas equipes, uma encarnada e uma desencarnada. Ademais, de acordo com o codificador da Doutrina Espírita, a homogeneidade do grupo vai depender do conhecimento e da afinidade dos participantes dessa reunião.
Ainda de acordo com o livro Orientação ao centro espírita, no mesmo capítulo, são apresentados os objetivos principais de uma reunião mediúnica, quais sejam:
- Prestar auxílio moral e doutrinário aos espíritos que sofrem ou que fazem sofrer, concorrendo para o seu equilíbrio e a sua melhoria;
- Amparar espíritos em processo de reencarnação;
- Contribuir para o reajuste espiritual de espíritos portadores de várias desarmonias;
- Colaborar com processos de desobsessão planejados e desenvolvidos pelos obreiros do plano extrafísico;
- Favorecer o desenvolvimento da ciência espírita por meio de estudos edificantes relacionados à mediunidade e ao processo de intercâmbio mediúnico;
- Exercitar o desenvolvimento de virtudes, esforçando-se para fornecer exemplos de transformação moral e ação no bem;
- Cooperar com os benfeitores espirituais no trabalho de defesa do centro espírita, ante as investidas de espíritos descompromissados com o bem;
- Auxiliar na construção da paz mundial entre os povos.
Allan Kardec enfatiza que: o objetivo de uma reunião séria deve consistir em afastar os espíritos mentirosos. Incorreria em erro se ela se julgasse imune à ação deles, fiando-se tão só nos seus objetivos e na qualidade de seus médiuns. Tal meta não será alcançada enquanto a reunião não se achar em condições favoráveis4.
Composição da equipe e papéis
O bom funcionamento de uma reunião mediúnica inicia na formação do grupo e na escolha dos participantes que precisam ter sólido conhecimento da Doutrina Espírita e conhecimento específico da mediunidade. Precisam ter comprometimento e disponibilidade para a realização da tarefa e buscarem o aprimoramento intelecto-moral de forma constante.
Léon Denis esclarece-nos que: a constituição dos grupos […] comporta regras e condições cuja observância influi consideravelmente no resultado a alcançar. Conforme o seu estado psíquico, os seus assistentes (participantes) favorecem ou embaraçam a ação dos espíritos. Enquanto uns, só com sua presença, facilitam as manifestações, outros lhes opõem um quase insuperável obstáculo5.
Participantes
A direção do grupo deve ser confiada a alguém que tenha […] certa posição de liderança, mas é necessário não esquecer nunca de que tal condição não confere a ninguém poderes ditatoriais e arbitrários sobre o grupo6.
No dizer de Suely Caldas Schubert, o dirigente da reunião é aquele que preside os trabalhos, encaminhando todo o seu desenrolar. É o responsável, no plano terrestre, pela reunião. Precisa ser alguém em quem o grupo confie, uma pessoa que represente, para os encarnados, a diretriz espiritual7.
Segundo André Luiz, na equipe de serviço, os médiuns esclarecedores, mantidos sob a condução e inspiração dos benfeitores espirituais, são os orientadores da enfermagem ou da assistência aos sofredores desencarnados. Constituídos pelo dirigente do grupo e seus assessores, são eles que os instrutores da Vida Maior utilizam em sentido direto para o ensinamento ou o socorro necessários8.
O médium esclarecedor é a pessoa que, na reunião, tem a função de ouvir, dialogar e esclarecer os espíritos necessitados de auxílio que se manifestam em busca de socorro. Ele se mantém consciente de que se encontra perante uma criatura humana que sofre e que, muitas vezes, desconhece a real situação em que se encontra9.
O médium ostensivo ou de efeitos patentes (psicofônicos, psicógrafos, videntes, audientes) são aqueles que propiciam a produção de efeitos mediúnicos evidentes e inequívocos, ensejando a manifestação dos espíritos9.
Os médiuns psicofônicos são aqueles chamados a emprestar recursos fisiológicos aos sofredores desencarnados para que estes sejam socorridos.
Os médiuns de apoio ou sustentação são responsáveis pela aplicação de passe, quando houver necessidade, e por ofertar sustentação à reunião mediúnica por meio da prece e da transmissão de energias psíquicas, harmônicas e amorosas9.
Etapas da reunião
A reunião mediúnica está dividida em três fases ou etapas bem caracterizadas (abertura, desenvolvimento e encerramento). Inicia-se, pois, com a leitura de um trecho de um livro espírita, seguida da leitura de um trecho de O evangelho segundo o Espiritismo e/ou um trecho de O livro dos espíritos ou de O livro dos médiuns, para alinhamento dos pensamentos, favorecendo o recolhimento, o relaxamento, a concentração para que os médiuns entrem em sintonia com os espíritos que irão se manifestar. Em seguida, faz-se uma prece.
No desenvolvimento da reunião, os espíritos terão a oportunidade de se manifestar pelo diálogo que com eles ocorre, visando o esclarecimento, o auxílio e o encaminhamento devido. Essa fase não deve exceder 60 minutos para que não haja desgaste desnecessário de energias por parte dos médiuns.
No encerramento da reunião, os trabalhadores se desligam dos quadros apresentados e emitem vibrações e irradiações em benefício de todos os atendimentos ocorridos, da casa espírita onde o trabalho foi realizado, do planeta Terra etc.
O livro Orientação para a prática mediúnica no centro espírita esclarece, detalhadamente, as etapas da reunião mediúnica10, razão pela qual se recomenda a leitura da obra.
Etapa preparatória
- Breve leitura preparatória de um trecho de um livro espírita;
- Leitura de um pequeno trecho de O evangelho segundo o Espiritismo e/ou um trecho de O livro dos espíritos;
- Prece, objetiva e concisa, para abertura da reunião.
Etapa de desenvolvimento da reunião
- Caracteriza-se pela manifestação dos espíritos necessitados de auxílio e de diálogo que com eles se realiza, objetivando esclarecimento e auxílio.
- Conforme o planejamento espiritual, benfeitores espirituais podem se manifestar nesse momento inicial da reunião, pela psicofonia ou pela psicografia.
- Em geral, a manifestação inicial do amigo espiritual é para prestar esclarecimentos a respeito do trabalho de atendimento aos espíritos que sofrem.
- É desejável que o atendimento individual ao espírito sofredor que se manifesta, um por vez, possibilite que este seja mais integralmente beneficiado pelo socorro que lhe é prestado pelo grupo.
- Essa etapa não deve ultrapassar 60 minutos.
Etapa de encerramento
- Concluídas as manifestações dos espíritos, o dirigente da reunião realiza vibrações (irradiações mentais) ou indica alguém para fazê-las. Em seguida, profere a prece final.
Em decorrência da pandemia, ocorreu a suspensão das reuniões mediúnicas, por conseguinte, as casas espíritas, de uma maneira gera, foram tomadas por uma grande preocupação em relação à situação dos médiuns, porquanto ficariam sem o exercício da mediunidade para o atendimento aos irmãos em sofrimento.
Sobre essa realidade, é preciso lembrar que a espiritualidade, certamente, já estava com tudo isso preparado e nenhum assistido ficou sem atendimento, bem como nenhum médium deixou de trabalhar mediunicamente, uma vez que as reuniões têm continuidade no plano espiritual, quando os médiuns são levados em desdobramento durante o sono do corpo físico.
No horário destinado às reuniões mediúnicas presenciais, as casas espíritas estão realizando estudos de temas evangélicos doutrinários e fazendo irradiações mentais para o planeta Terra e para todos os irmãos necessitados de amparo e assistência.
Bibliografia
1 – Livro Orientação ao centro espírita, capítulo 9, 1ª edição revista e atualizada em 2/2021
2 – Kardec, Allan, O Livro dos Médiuns, 2ª parte, capítulo 29, item 327, FEB, 81ª edição
3 – Kardec, Allan, O Livro dos Médiuns, 2ª parte, capítulo 29, item 331, FEB, 81ª edição
4 – Kardec, Allan, O Livro dos Médiuns, 2ª parte, capítulo 29, item 330, FEB, 81ª edição
5 – Denis, Léon, No invisível, 1ª parte, capítulo X
6 – Miranda, Hermínio C. de, Diálogo com as sombras, 1ª parte, capítulo 1
7 – Schubert, Suely Caldas, Obsessão desobsessão, 3ª parte, capítulo 5, 10ª edição, FEB
8 – Xavier, F. C e Vieira, Waldo, Desobsessão, capítulo 24, pelo Espírito André Luiz
9 – Orientação para a prática mediúnica no centro espírita, capítulo 8 – Orientações específicas, FEB, 1ª edição 2016
10 – Orientação para a prática mediúnica no centro espírita, capítulo 9 – Orientações específicas, FEB, 1ª edição 2016